A NOVIDADE ANTIGA.
É triste ver
a condição do cristianismo atual, pois em sua grande maioria os chamados
crentes estão à busca de novidades. Essa, aliás, é a tendência do ser humano,
como nos diz Lucas ao relatar a atitude dos atenienses e estrangeiros: “Todos
os atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam, não tinham outro
interesse a não ser contar ou ouvir a última novidade” (Atos 17:21). Que
incrível! Literalmente Lucas diz que eles não tinham outro interesse senão
falar e ouvir “[...] algo mais novo do
que qualquer outra coisa que eles já tivessem ouvido”.
Como disse o
inesquecível Sérgio Pimenta (1983): “Toda
novidade que vem do vento/ ao peso da força na rotina cai/ na monotonia do
pensamento/ que em busca de outra novidade sai”. Sim, o povo evangélico
está à busca de contar e ouvir a próxima novidade, não importa se é uma heresia
ou não. Vivemos um momento em que as pessoas querem sensações que as façam
extrapolar, coisas impressionantes e que empolgam a mente humana. A grande
questão é: Será que isso é válido? Até que ponto o evangelicalismo atual não
caminha para uma grande desilusão espiritual?
Nesses
últimos dias, lendo o profeta Jeremias, percebi que vivemos dias não muito
diferentes daqueles vivido pelo profeta. No livro de Lamentações ele deixa
claro uma das razões que causou a destruição de Jerusalém e o exílio de Judá: “Os
teus profetas te anunciaram visões falsas e insensatas e não denunciaram o teu
pecado para evitar o teu cativeiro; mas anunciaram profecias inúteis e palavras
que te levaram ao exílio” (Lamentações 2:14). Exatamente isso que vemos
hoje em dia, visões falsas e insensatas, ilusões, profecias inúteis que apenas
massageiam o ego dos supostos adoradores de Deus. Por que “supostos
adoradores”? Porque tudo é feito em nome de Deus, mas na verdade nada é feito
para a glória Dele. Nesse caso, Deus não tem nada a ver com as ações humanas,
pois como Ele mesmo disse: “Eu sou o SENHOR; este é o meu nome. Não darei a
minha glória a outro [...]” (Isaías 42:8).
A expressão
religiosa é algo natural do ser humano, mas na grande maioria das vezes não
passa de uma cortina de fumaça, uma ilusão que a mente cria a um suposto “deus”
criado em nossa mente finita e na qual pensamos controlar. A cultura evangélica
brasileira, infelizmente, está à busca de novidades, não importam quais e nem
de onde venham. Os templos lotados, os shows e as luzes no palco, os
testemunhos de “pessoas ungidas”, tudo hoje gira em torno da pretensa
propagação do Evangelho, quando na verdade a glória é humana. A verdade, no
entanto, é mais dura e por isso pouco propagada: nunca vi um cristão fiel e
verdadeiro ser forjado em encontros de show evangélico ou ambientes parecidos.
O cristão
verdadeiro é forjado pela Palavra de Deus, através de uma vida justa, sóbria e piedosa
(Tito 2:12). Esse cristão não busca novidades, nem outras “revelações”, pois a
novidade do cristão é antiga e completa, já revelada nas Escrituras e que não
precisa ser reciclada nem recauchutada. O cristão não olha para outro lugar, a
não ser na linha de chegada onde seu Senhor o espera com a coroa da vida (cf.
Hebreus 12:1,2; Apocalipse 2:10). Ele corre a corrida proposta por seu Senhor,
pois entende que o discipulado implica em seguir os mesmos passos do Mestre
(cf. 1Pedro 2:21). A luz que esse cristão deseja ver não é outra senão a glória
de seu Senhor, e não o brilho desse mundo. A música que deseja ouvir glorifica
Aquele que morreu e ressuscitou e que vive à direita do Pai. Enfim, não há nada
de novo na novidade cristã, pois Jesus Cristo é sempre o assunto predileto do
cristão.
Sim, o
cristão não está à busca de profecias inúteis, mas da palavra profética da
Escritura, a Palavra que alimenta verdadeiramente (cf. João 6:27). O cristão
tem Cristo e Ele já basta. Como disse Sérgio Pimenta (1983): “Cristo é tudo para todo tempo/ quem Nele se
encontra não procura mais”. Como nos diz Paulo: “[...] a realidade é
Cristo” (Colossenses 2:17). Portanto, amado cristão, não se iluda com os
festivais evangélicos nem com as chamadas “novidades” do mundo gospel. Olhe para Cristo, viva para Ele
e busque conhecê-lO mais através da Palavra, porque para quem a realidade é
Cristo, nenhuma novidade humana serve mais.