quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

SER IGREJA

SER IGREJA

Fazer parte da igreja de Jesus Cristo é um privilégio abençoado, mas atualmente negligenciado por muitos crentes. Infelizmente vivemos uma época em que as igrejas sofrem com uma rotatividade terrível e danosa. Por quê? Porque esse é o espírito dessa época, o que Zygmunt Bauman (1925-), sociólogo polonês chama de “modernidade líquida”. Esse autor chega a dizer: “Os laços inter-humanos, que antes teciam uma rede de segurança digna de um amplo e contínuo investimento de tempo e esforço, e valiam o sacrifício de interesses individuais imediatos [...] se tornam cada vez mais frágeis e reconhecidamente temporários” (2007, p.8,9).
O grande problema é que as pessoas não sabem mais o que são nem na sociedade nem na família e muito menos na igreja. Hoje em dia ser parte da igreja tornou-se sinônimo de “frequentador”, “amigo do evangelho”, “espectador” ou qualquer outra coisa. As pessoas não querem mais saber sobre o que é certo ou errado, o que é heresia ou doutrina ortodoxa, quem de fato fala a verdade de Cristo e quem apenas usa o Nome como meio de “ganhar a vida e ascender socialmente”. A verdade é dura, mas é isso mesmo. Negligência, superficialidade, modismo e uma espiritualidade sólida como “prego na areia”.
O pior é quando os crentes querem espiritualizar suas “andanças”, quando falam que “sentiram de Deus” que deveriam mudar de igreja. Sabe o que mais causa estranhamento? Eu nunca sinto isso, apesar das dificuldades da igreja. Aliás, a igreja tem um formato único no mundo, pois ela é uma instituição divina e humana ao mesmo tempo. Divina porque nasceu no coração de Deus e visa ser a nova sociedade restaurada em Cristo, mas humana, miseravelmente humana com seus pecados e atropelos. No entanto, eu amo a igreja e vejo que vale a pena dedicar-se para o fortalecimento dela por um simples fato: “[...] Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). Ora, se meu Senhor fez isso, por que eu não posso seguir Seu exemplo?
Alguns me dirão: “Mas não importa a denominação, pois posso servir a Cristo em qualquer lugar”. Bem, essa é uma falácia perigosa, pois servir a Cristo implica em levar Seu compromisso com Cristo até o fim. Quem vai derrubar as barreiras denominacionais não seremos nós, mas o Dono da Igreja: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu também as conduza. Elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor” (João 10:16). Quem separará o trigo do joio é o mesmo Senhor do Universo e da seara (Mateus 13:29,30). As denominações existem por causa da nossa humanidade; no entanto, existem na maioria delas uma conexão com os princípios fundamentais da fé: Somente a Escritura, Somente a fé em Cristo, Somente a graça de Cristo, Somente Cristo, Somente a glória de Deus.
E nesse aspecto a denominação importa sim. Como alguém pode ser membro de uma igreja em que seu líder se autointitula “apóstolo”? Como fazer parte de uma comunidade onde a Bíblia não é a base de regra de fé e conduta, mas é apenas manipulada para favorecer posições e interpretações esdrúxulas? Como fazer parte de uma igreja onde Cristo e sua obra na cruz não são suficientes, mas onde as pessoas usam artifícios de uma “psicologia barata” para “quebrar maldições hereditárias”? Como fazer parte de uma igreja onde é proclamado “glória a Deus”, mas na verdade tudo gira em torno da glória humana?
Ser igreja é mais que frequentar um templo, ouvir a mensagem, dar o dízimo e ir embora com “a bênção”. Ser igreja tem a ver com três compromissos fundamentais. O primeiro é o compromisso com Jesus Cristo, o Cabeça da Igreja. Se não compreendermos quem é Jesus e Sua obra na cruz então ser da igreja será apenas uma questão numérica. O Senhor não deseja que façamos número, mas que tenhamos com Ele uma comunhão profunda e piedosa, onde buscamos a cada dia conhecê-lO mais até “[...] que Cristo habite pela fé em vosso coração, a fim de que, arraigados e fundamentados em amor” (Efésios 3:17).
O segundo compromisso é com a doutrina de Cristo. Não basta apenas crer; é necessário saber o que se crê. Alguns creem, mas estão sinceramente enganados. Não basta ter a Bíblia, é necessário conhecê-la e desfrutar de cada ensinamento que ela nos traz. Não tenho receio de dizer que a grande maioria dos crentes hoje em dia são verdadeiros “analfabetos bíblicos e doutrinários”. Paulo orientou o jovem pastor Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nessas coisas. Dessa forma, salvarás tanto a ti mesmo como os que te ouvem” (1Timóteo 4:16).
E o terceiro compromisso é com a comunidade de fé. Essa comunidade é feita de pessoas, algumas fáceis e outras difíceis, algumas simples e simpáticas, outros já soberbos e metidos. Se alguém duvida que tenhamos todos os tipos de pessoas na igreja basta ver a composição dos discípulos que Jesus chamou. A igreja não é feita de pessoas perfeitas, mas de pessoas que foram alcançadas pela graça de Cristo e que necessitam de relacionamentos saudáveis e firmes para crescer. O compromisso com meu irmão em Cristo implica em amar, perdoar, ter paciência, submeter-se, suportar, agir com mansidão, admoestar, exortar, enfim, ser igreja implica numa integração que tem um custo.
Portanto, sigamos a orientação do autor de Hebreus: “Pensemos em como nos estimular uns aos outros ao amor e às boas obras, não abandonemos a prática de nos reunir, como é costume de alguns, mas, pelo contrário, animemo-nos uns aos outros, quanto mais vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:24,25). Seja firme e permaneça na Igreja onde Deus lhe colocou, buscando amar a Cristo, Sua doutrina e os irmãos.

Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.