SER IGREJA
Fazer parte
da igreja de Jesus Cristo é um privilégio abençoado, mas atualmente
negligenciado por muitos crentes. Infelizmente vivemos uma época em que as
igrejas sofrem com uma rotatividade terrível e danosa. Por quê? Porque esse é o
espírito dessa época, o que Zygmunt Bauman (1925-), sociólogo polonês chama de
“modernidade líquida”. Esse autor chega a dizer: “Os laços inter-humanos, que
antes teciam uma rede de segurança digna de um amplo e contínuo investimento de
tempo e esforço, e valiam o sacrifício de interesses individuais imediatos
[...] se tornam cada vez mais frágeis e reconhecidamente temporários” (2007,
p.8,9).
O grande
problema é que as pessoas não sabem mais o que são nem na sociedade nem na
família e muito menos na igreja. Hoje em dia ser parte da igreja tornou-se
sinônimo de “frequentador”, “amigo do evangelho”, “espectador” ou qualquer
outra coisa. As pessoas não querem mais saber sobre o que é certo ou errado, o
que é heresia ou doutrina ortodoxa, quem de fato fala a verdade de Cristo e quem
apenas usa o Nome como meio de “ganhar a vida e ascender socialmente”. A
verdade é dura, mas é isso mesmo. Negligência, superficialidade, modismo e uma
espiritualidade sólida como “prego na areia”.
O pior é
quando os crentes querem espiritualizar suas “andanças”, quando falam que
“sentiram de Deus” que deveriam mudar de igreja. Sabe o que mais causa
estranhamento? Eu nunca sinto isso, apesar das dificuldades da igreja. Aliás, a
igreja tem um formato único no mundo, pois ela é uma instituição divina e humana
ao mesmo tempo. Divina porque nasceu no coração de Deus e visa ser a nova
sociedade restaurada em Cristo, mas humana, miseravelmente humana com seus
pecados e atropelos. No entanto, eu amo a igreja e vejo que vale a pena
dedicar-se para o fortalecimento dela por um simples fato: “[...] Cristo
amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). Ora, se meu
Senhor fez isso, por que eu não posso seguir Seu exemplo?
Alguns me
dirão: “Mas não importa a denominação, pois posso servir a Cristo em qualquer
lugar”. Bem, essa é uma falácia perigosa, pois servir a Cristo implica em levar
Seu compromisso com Cristo até o fim. Quem vai derrubar as barreiras
denominacionais não seremos nós, mas o Dono da Igreja: “Tenho ainda outras
ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu também as conduza. Elas
ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor” (João 10:16). Quem
separará o trigo do joio é o mesmo Senhor do Universo e da seara (Mateus
13:29,30). As denominações existem por causa da nossa humanidade; no entanto,
existem na maioria delas uma conexão com os princípios fundamentais da fé:
Somente a Escritura, Somente a fé em Cristo, Somente a graça de Cristo, Somente
Cristo, Somente a glória de Deus.
E nesse
aspecto a denominação importa sim. Como alguém pode ser membro de uma igreja em
que seu líder se autointitula “apóstolo”? Como fazer parte de uma comunidade
onde a Bíblia não é a base de regra de fé e conduta, mas é apenas manipulada
para favorecer posições e interpretações esdrúxulas? Como fazer parte de uma
igreja onde Cristo e sua obra na cruz não são suficientes, mas onde as pessoas
usam artifícios de uma “psicologia barata” para “quebrar maldições
hereditárias”? Como fazer parte de uma igreja onde é proclamado “glória a
Deus”, mas na verdade tudo gira em torno da glória humana?
Ser igreja é
mais que frequentar um templo, ouvir a mensagem, dar o dízimo e ir embora com
“a bênção”. Ser igreja tem a ver com três compromissos fundamentais. O primeiro
é o compromisso com Jesus Cristo, o Cabeça da Igreja. Se não compreendermos
quem é Jesus e Sua obra na cruz então ser da igreja será apenas uma questão
numérica. O Senhor não deseja que façamos número, mas que tenhamos com Ele uma
comunhão profunda e piedosa, onde buscamos a cada dia conhecê-lO mais até “[...]
que Cristo habite pela fé em vosso coração, a fim de que, arraigados e
fundamentados em amor” (Efésios 3:17).
O segundo
compromisso é com a doutrina de Cristo. Não basta apenas crer; é necessário
saber o que se crê. Alguns creem, mas estão sinceramente enganados. Não basta
ter a Bíblia, é necessário conhecê-la e desfrutar de cada ensinamento que ela
nos traz. Não tenho receio de dizer que a grande maioria dos crentes hoje em
dia são verdadeiros “analfabetos bíblicos e doutrinários”. Paulo orientou o
jovem pastor Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera
nessas coisas. Dessa forma, salvarás tanto a ti mesmo como os que te ouvem”
(1Timóteo 4:16).
E o terceiro
compromisso é com a comunidade de fé. Essa comunidade é feita de pessoas,
algumas fáceis e outras difíceis, algumas simples e simpáticas, outros já
soberbos e metidos. Se alguém duvida que tenhamos todos os tipos de pessoas na
igreja basta ver a composição dos discípulos que Jesus chamou. A igreja não é
feita de pessoas perfeitas, mas de pessoas que foram alcançadas pela graça de
Cristo e que necessitam de relacionamentos saudáveis e firmes para crescer. O
compromisso com meu irmão em Cristo implica em amar, perdoar, ter paciência,
submeter-se, suportar, agir com mansidão, admoestar, exortar, enfim, ser igreja
implica numa integração que tem um custo.
Portanto,
sigamos a orientação do autor de Hebreus: “Pensemos em como nos estimular
uns aos outros ao amor e às boas obras, não abandonemos a prática de nos
reunir, como é costume de alguns, mas, pelo contrário, animemo-nos uns aos
outros, quanto mais vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:24,25). Seja
firme e permaneça na Igreja onde Deus lhe colocou, buscando amar a Cristo, Sua
doutrina e os irmãos.
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