Pular parece ser mais divertido que andar. Quem pula parece estar feliz, como se estivesse num êxtase festivo, onde o desejo de extravasar a energia corporal fosse quase que uma necessidade imediata. Andar, no entanto, implica num ritmo e numa dinâmica que trazem a ideia da reflexão, da paciência e de um alvo adiante. O que estamos fazendo afinal?
Paulo disse aos gálatas: “Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne juntamente com suas paixões e desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também sob a direção do Espírito” (Gálatas 5:23,24). Crucificar a carne não é algo que se faz pulando, pois o pular implica numa agitação que não se permite tal ação. E certamente nesse fim de semana muitos estarão pulando e jogando para fora de si uma energia e uma vitalidade que no final terminará em morte. Sim, paixões e desejos desenfreados levam ao precipício, pois a carne não encontra limites para isso.
Portanto, o cristão se abstém dessas coisas, pois a partir do momento em que se entregou a Cristo, seus desejos e paixões foram crucificados com Ele na cruz. Esse crucificar da carne é uma atitude diária, uma submissão voluntária – não porque simplesmente ele quer – mediante a ação do Espírito Santo em sua vida. É esse Espírito quem agora muda a mente e o coração do cristão de modo que, quando ele sente suas a tentação de querer voltar atrás, algo inflamado pela carne, logo o Espírito os coloca em submissão ao poder transformador de Cristo.
O cristão sente esses desejos? Não os desejos, mas a carne – que ainda habita em nós e luta constantemente contra o Espírito – tenta nos mostrar que é “natural” dar vazão aos desejos e paixões carnais. Aliás, essa é uma estratégia diabólica, mostrar que como humanos temos libido e precisamos colocar para fora tudo aquilo que temos vontade. Todavia, o cristão verdadeiro compreende que não é mais guiado pela vontade humana. Ao ser despertado pelo Espírito quanto às verdades espirituais e olhando na cruz Aquele que assumiu a maldição dos pecadores, o cristão é impelido de tal maneira a submeter-se a Cristo, pois não há outro caminho.
Não é a toa que Paulo declara: “Pois o que nos motiva é o amor de Cristo, porque concluímos que, se um morreu por todos, logo, todos morreram” (2Coríntios 5:14). Ele morreu na cruz e todo aquele que Nele crê, de fato, também morreu. Por isso o cristianismo é algo radical, pois envolve a suprema declaração de que, estando eu em Cristo, já morri para o mundo e suas paixões. Para o cristão o carnaval não tem nenhum sentido, nem mesmo cultural, pois até a cultura é transformada pelo Evangelho. Na verdade o cristão anda na contracultura, pois isso é seguir a Cristo.
Dessa forma, somos chamados a andar no Espírito. Andar é uma metáfora para estilo de vida. Ser cristão implica em uma vida diferente e transformada; ser cristão significa andar numa nova disposição mental, numa ética de princípios eternos e imutáveis, pois ele agora serve um Deus eterno e imutável. Andar no Espírito implica numa mudança radical de valores e disposições, onde tudo aquilo que não pertence a Cristo e ao Seu reino são literalmente jogados fora. Sua cosmovisão é transformada pelo Espírito e assim tira de sua vida a falsa dualidade entre sacro e profano, pois para o cristão tudo é santo e todas as disposições de sua vida visam à glória de Deus.
Mas alguém poderia me questionar: “Ora, se tudo que o cristão faz é para a glória de Deus, por que brincar o carnaval não poderia ter essa conotação? Por que não fazer um bloco cristão mais comportado?”. Muito bem, essa seria uma questão bem própria da carne, pois o desejo do diabo é sempre relativizar os princípios de Deus. Voltemos a Escritura: “Todas as coisas me são permitidas, mas nem todas são proveitosas. Todas as coisas me são permitidas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Coríntios 6:12).
O fato de ser permitido não me dá o direito de fazê-lo; muito menos significa que será proveitoso. Há muitas coisas que são permitidas pelos homens e que não são proveitosas. Tentar relativizar o princípio de Deus é tentar colocar Deus num recipiente e mandar Nele. Além disso, o princípio básico de uma festa de carnaval não é brincar, mas extravasar a carne. Por que há uma quarta-feira de cinzas? Porque na terça-feira de carnaval está “liberado” fazer qualquer coisa que a carne queira. Enganosamente a quarta-feira de cinzas é colocada como o início de uma penitência que dura quarenta dias (eis a razão da quaresma) para se redimir dos pecados antes da páscoa. Sabe o que é isso? O homem querendo ser Deus!
Deus não divide Sua glória com ninguém! Querer manipular as coisas espirituais é desejar estar no controle de Deus, e isso Ele não aceita. Não é ficando quarenta dias sem comer carne que o ser humano se purifica. Alguém poderia me questionar que como evangélicos não temos quaresma; todavia, muitos crentes são piores que muitos católicos, pois em sua falsa religiosidade tentam adequar o mundo com os princípios de Deus.
Quer se alegrar? Faça como o salmista: “Mas alegrem-se os justos, regozijem-se na presença de Deus e se encham de júbilo. Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome! Louvai aquele que cavalga sobre as nuvens, pois seu nome é SENHOR; exultai diante dele!” (Salmo 68:3,4). Sabe onde o cristão se alegra de verdade? É na presença de Deus, pois Ele é o motivo do louvor, da alegria, da disposição, da festa, do júbilo, a razão do cantar, do viver, do sonhar, do caminhar. É Cristo a esperança inesgotável, a vida e tudo mais! É na beleza de Cristo, no Seu amor e misericórdia que encontramos forças renovadas para caminhar até a Jerusalém celestial. Os olhos do cristão não mais repousam aqui, mas no trono da graça, pois é para lá que ele anda, para receber a coroa da vida. Aí sim, na casa do Pai o cristão saltará de alegria: “Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo cura nas suas asas; e vós saireis e saltareis como bezerros soltos no curral” (Malaquias 4:2).
Tenha uma boa semana em Cristo.
Fraternalmente, Pr. Gilson Jr.
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