POR QUEM OS SINOS DOBRAM?
Um pastor e poeta britânico, John Donne
(1572-1631), deão da Catedral de São Paulo em Londres, disse num de seus
sermões: “Nenhum homem é uma ilha,
inteira em si mesma; cada indivíduo é um pedaço do continente, uma parte da
porção central [...] a morte de
qualquer homem só me diminui, e isso porque sou parte integrante da humanidade.
Portanto, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; dobram por ti”.
As suas palavras sombrias refletiam a extrema melancolia e profunda piedade em
relação à morte, fruto da limitação que a Queda tinha imposto sobre a raça
humana.
Infelizmente vivemos numa geração que não pensa
muito nas consequências espirituais, éticas e morais de suas ações. Na sua
grande maioria as pessoas olham apenas para seu umbigo, pensando apenas no aqui
e no agora, sem se importar com os outros, vivendo num isolacionismo; embora
conectados num mundo virtual existe um sentimento de solidão e angústia nas
pessoas. Um dos aspectos dessa angústia é a entrega excessiva das pessoas na
busca do prazer. A nossa sociedade criou a falsa premissa de que os desejos
emocionais são objetos sagrados e que é um crime contra a natureza manter uma
necessidade emocional não satisfeita. Por isso essas pessoas passaram a criar
justificativas morais para seus atos, partindo da premissa de que a satisfação
pessoal deve ser buscada a qualquer preço. O resultado trágico dessa postura é
que as pessoas não pensam sobre a brevidade da vida e o propósito da
existência.
A Bíblia diz com ênfase: “Melhor é ir à casa
onde há luto do que ir à casa onde há banquete; pois a morte é o fim de todos
os homens; que os vivos reflitam nisso em seu coração” (Eclesiastes 7:2).
Sim, Deus nos convida a refletir sobre a existência, sobre a finitude e o real
propósito da vida. Quando nos esquecemos disso tendemos a viver a vida de uma
forma despreocupada, achando que nada poderá nos acontecer e que estamos
seguros de nossa posição.
Nos dias de Ezequias o reino de Judá vivia sob a
ameaça de Senaqueribe e os assírios dominavam o mundo com terror e destruição.
Embora Ezequias fosse um rei justo e piedoso, o povo de Jerusalém ainda estava
sob a influência do péssimo governo de Acaz. Esse rei submeteu-se à Assíria e aos
deuses pagãos, espalhando em Judá uma péssima influência espiritual. Por causa
disso o povo de Jerusalém mantinha uma atitude frívola diante das
circunstâncias, a ponto de Deus levantar o profeta Isaías numa dura acusação.
Diante da invasão assíria em Judá o profeta está
inconsolável diante da destruição e da guerra que surgia (Isaías 22:1-7). Mas o
pior não era isso; Judá confiava na sua própria força e não olhava para Deus
(22:8-11). O povo esquecia quem de fato governava as nações e esperava ajuda de
outra fonte que não o Senhor. Diante disso o profeta proclama: “Naquele dia,
o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, vos convidou a chorar e a prantear, a rapar a
cabeça e a vestir panos de saco; mas, pelo contrário, houve regozijo e alegria,
matança de bois, abate de ovelhas, carne para comer, vinho para beber; e se
diz: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Isaías 22:12,13).
Não é assim até hoje? Deus convida o ser humano
ao arrependimento, a uma mudança de postura, uma reflexão profunda que nos leve
de volta ao Senhor, no entanto, esse ser humano prefere o churrasco, a festa, a
bebedeira e a glutonaria, porque no final a morte não os impulsiona a uma
mudança de postura, mas a uma atitude irrefletida e irresponsável. O prazer da
bebida e da comida fazia com que os judeus fechassem os ouvidos para a voz de
Deus. O juízo foi estabelecido por causa disso: “Mas o SENHOR dos Exércitos
segredou-me aos ouvidos: Certamente esta maldade não será perdoada até a vossa
morte, diz o Senhor, o SENHOR dos Exércitos” (22:14).
Não nos enganemos, os sinos dobram por nós!
Nosso tempo está acabando e não podemos ser relapsos a ponto de deixar esse
assunto na gaveta. Todos os dias devemos nos lembrar do alerta que o Senhor nos
dá: “Portanto, assim te tratarei, ó Israel! E porque assim te tratarei,
prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus. Porque é ele quem
forma os montes, cria o vento e diz ao homem o seu pensamento. Ele transforma a
manhã em trevas e anda sobre os lugares altos da terra; o seu nome é SENHOR, o
Deus dos Exércitos” (Amós 4:12,13).
Para alguns esse encontro será glorioso e
abençoador; todavia, para outros, será de tristeza e angústia, justamente por
não terem considerado a vida como uma dádiva e uma responsabilidade. Como
cristãos não podemos desprezar nosso tempo e nem a vida que recebemos do
Criador. Ela não é nossa, mas do Senhor e temos que vivê-la da melhor forma
possível.
Como podemos fazer isso? Paulo nos responde: “Portanto,
seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para
a glória de Deus” (1Coríntios 10:31). Precisamos encarar todas as
atividades da vida sob o ângulo da glória de Deus. O que faço trará a glória de
Deus? As minhas finanças, minhas roupas, minhas amizades, meu tempo e o que
faço durante o dia, todas as dimensões da existência trará a glória Daquele que
me criou? Pense nisso agora, antes que sejamos mais um na multidão que vive sem
nenhum sentido, antes que o tempo acabe e não dê mais tempo para fazer o que de
fato importa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário