O CRISTIANISMO NA ESPANHA
No século I o
apóstolo Paulo expressou seu desejo de ir à Espanha: “Mas, agora, não tendo
mais o que me detenha nessas regiões, e tendo já há muitos anos grande desejo
de visitar-vos, eu o farei quando for à Espanha; pois espero ver-vos de
passagem e ser encaminhado por vós para lá, depois de experimentar um pouco da
vossa companhia [...] Tendo
concluído isso, e certificando-me de que receberam esse fruto, partirei para a
Espanha, passando para visitá-los” (Romanos 15:23,24,28). Não
sabemos ao certo se Paulo concretizou esse desejo, mas sabemos que já no ano
100 d.C. o Evangelho tinha chegado na península Ibérica. Segundo a tradição,
Tiago Zebedeu, irmão de João, após o Pentecostes do ano 33 d.C. teria cruzado o
Mediterrâneo e chegado à província da Hispânia. No entanto, existe mais lenda
que fatos históricos em relação a esse discípulo de Cristo, que foi morto por
ordem de Herodes (cf. Atos 12:1,2).
Na verdade a
história do cristianismo na Espanha possui poucas informações, mas pelo
desenvolvimento do cristianismo entre os anos 100 a 313 d.C. a fé cristã
tornou-se uma forte influência civilizadora no sul da Gália, na Espanha, na
Itália e no norte da África (NICHOLS, 1960, p.29). Entre 313-590 d.C. o mundo
ocidental viu a fé cristã sair das catacumbas e chegar ao palácio imperial,
primeiro com Constantino (272-337 d.C.), que tornou o cristianismo uma religião
permitida e depois com Teodósio I (347-395 d.C.), que tornou a fé cristã em
religião estatal. Aliás, Teodósio nasceu na Espanha.
A partir do
ano 409 d.C. a região começou a sofrer as invasões dos povos germânicos, o que
produziu grande destruição, pois as instituições civis romanas desapareceram.
Depois chegaram os suevos e visigodos, povos que haviam sido cristianizados a
partir da heresia ariana. Esse período foi conturbado, pois a maioria da
população cristã dessa região era formada pela tradição de Nicéia, que aceitava
a Trindade, e os invasores começaram a perseguir os cristãos tradicionais. Nos
séculos IV e V, num ocidente que se desintegrava, a Igreja foi a única
instituição que permaneceu de pé e protegeu os pobres, pois contava com
hospitais, refúgios para estrangeiros, orfanatos e auxílio às viúvas. No
entanto, esse período também marca uma grande leva de cristãos nominais, que
nada conheciam do cristianismo.
A partir do
século V, enquanto Leão I (400-461 d.C.) sustentava e fortalecia o poder do
bispo de Roma, a Espanha fortalecia-se seguindo o catolicismo de Roma. Tudo
começou com a conversão do rei visigodo Recaredo I (586 d.C.), que passou a
proteger a Igreja e assim iniciou-se a forte união entre Igreja e Estado na
Espanha. Isso ficou evidente nos Concílio de Toledo – celebrado entre 397 a 702
– que tratavam de assuntos religiosos como políticos.
No século
VIII os árabes conquistaram sem dificuldade o norte da África e boa parte da
península Ibérica (711-718 d.C.), mantendo os reinos cristãos mais ao norte da
região. Aos cristãos e os judeus foi permitido cultuar à sua maneira, desde que
pagassem tributos. No século XI os reinos árabes se fragmentaram em reinos
rivais e isso favoreceu os reinos cristãos que começaram um processo de
expansão. As idas e vindas de guerras de reconquista durou sete séculos até a
queda de Granada em 1492. Em Portugal a reconquista terminou mais cedo, em
1249.
Na transição
da Idade Média para a Idade Moderna surgiram os reis católicos, Isabel e
Fernando, unindo as duas coroas, a de Castela e de Aragão. Eles foram
importantes na formação do reino espanhol, bem como o estabelecimento do
catolicismo romano. Eles foram responsáveis pela expulsão dos judeus da Espanha
em 1492 e em 1502, um novo édito dizia que somente cristãos eram permitidos no
território da monarquia. Muitos judeus e mouros foram batizados, mas isso
resultou numa rebelião que terminou com a expulsão dos mouros em 1609.
A Reforma
Protestante iniciada por Lutero em 1517 chegou à Espanha em 1519 com os
primeiros escritos traduzidos, especialmente o comentário aos Gálatas.
Entretanto, o rei Carlos V (1500-1558) foi importante para a supressão do
protestantismo na Espanha, pois foi ele quem forçou o Concílio de Trento (1545-1563),
que deu início a Contrarreforma. A inquisição, que chamava os protestantes de
luteranos, embora a maioria fosse de linha calvinista, começou uma grande
perseguição contra as comunidades protestantes, surgindo assim os primeiros mártires
protestantes. O primeiro “ato de fé” contra os protestantes foi celebrado em
Valladolid em 21 de maio de 1559, quando catorze pessoas foram mortas e outras
dezesseis foram castigadas publicamente.
Diante da
perseguição muitos protestantes espanhóis fugiram para a Suíça, Alemanha e
Inglaterra. Em 1543, Francisco de Enzinas publicou sua versão do Novo
Testamento, baseado no texto grego de Erasmo de Roterdã, a quem dedicou ao
imperador Carlos V. Em 1556, João Pérez, natural de Sevilha, publicou sua
versão do Novo Testamento e dos Salmos. Mas certamente o trabalho mais
importante foi de Casiodoro de Reina (1520-1594), que fugindo da Inquisição e
depois de muitos contratempos, conseguiu publicar a Bíblia em 1569. Em 1602,
Cipriano de Valera (1532-1602) publicou a revisão de Casiodoro e chegou a ser a
versão mais usada pelos protestantes de língua espanhola até hoje.
No final do
século XVIII e início do século XIX se deu uma forte expansão das missões
protestantes, embora fossem clandestinas. Em 1868 os protestantes receberam a
liberdade de culto chegando a ter trinta mil membros. Mas na guerra civil
espanhola, os franquistas perseguiram os protestantes, obrigando muitos
pastores a abandonar o país. Acabada a guerra, o ditador Francisco Franco (1892-1975)
mandou confiscar todas as Bíblias não católicas e fechar todas as escolas
protestantes. Foi suprimida a liberdade de consciência e o franquismo decidiu
expurgar a memória protestante na Espanha. Somente depois da Constituição de
1978 que os protestantes tiveram restaurada a liberdade religiosa pela lei
espanhola.
Quando você
orar essa semana, coloque diante de Deus a Espanha. Ore para que Deus amplie
Sua obra naquele país. Embora mais de 76% da população se diga cristã
(católica), mais de 20% se diz sem religião ou ateu. Ore para que os projetos
missionários alcancem esse povo que hoje é escravo do consumismo, do
secularismo e da frieza espiritual.
Pastor Gilson, paz
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