terça-feira, 28 de abril de 2015

DOR E SOFRIMENTO – UMA REFLEXÃO SOBRE JÓ!

DOR E SOFRIMENTO – UMA REFLEXÃO SOBRE JÓ!

Era uma vez um homem íntegro e correto, habitante da terra de Uz chamado Jó. Ele buscava a Deus constantemente e procurava ter uma vida que agradasse a Deus. Era um homem abençoado, pai de dez filhos, sete rapazes e três moças; ele era rico e todos os seus filhos desfrutavam da riqueza dele. Ele era bondoso, pois ajudava os órfãos e as viúvas, sendo complacente e justo com aqueles que precisavam de sua ajuda.
Até que um dia, na presença do Altíssimo, se apresentou Satanás, o Adversário. De forma sutil e dissimulada fala com Deus e acusa Jó de favorecimento ilícito da bondade de Deus. Na acusação satânica, Jó só amaria a Deus porque Ele o protegia de todos os lados; implicitamente Deus estava sendo acusado de ser um demagogo, um político sem caráter, que “suborna” as pessoas, um tipo de Ser que manipula os resultados. Em outras palavras, Satanás acusa Deus de falta de integridade.
Mas Deus não estava sendo julgado, pois como Juiz de toda a Terra Ele tem o direito de julgar sem ser julgado, pois é perfeito em Seu caráter. Deus permite que a ação do acusador se estenda contra tudo que Jó tem menos a sua vida. E assim como um psicólogo behaviorista, Satanás tenta provar que Jó estava condicionado a amar a Deus. E assim, de uma hora para outra, Jó perde seus bois, suas ovelhas, seus camelos, seus servos e seus filhos. Uma angústia profunda invade sua alma, uma dor profunda, quase inexplicável; todavia, Jó não pecou nem culpou a Deus por coisa alguma. Pelo contrário, ele orou: “Eu saí nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei para lá. O SENHOR o deu, e o SENHOR o tirou; bendito seja o nome do SENHOR” (Jó 1:21).
Insatisfeito, Satanás provoca a Deus, mostrando que Jó perdeu coisas, mas que sua vida não fora afetada diretamente. Mas o Altíssimo não se perde em Suas ações nem nas Suas palavras, pois conhece muito bem o acusador. Novamente Deus permite que Satanás o ataque, mas não lhe dá o direito de tirar a vida. E assim, Jó ficou extremamente doente com feridas malignas, a ponto de sentar-se na cinza e raspar a pele com um caco de barro. A sua esposa, ao ver a situação precária de seu marido e a forma íntegra como mantinha sua fé, disse: “Tu ainda te manténs íntegro? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Parece um eco da voz satânica, uma loucura, um desvario. Jó, no entanto, recusa-se a cometer tal pecado e mantém-se firme no propósito de não pecar com os lábios.
Seus amigos ao saberem de sua situação viajaram para encontrá-lo. Ao contemplarem a desgraça em que se encontrava, Elifaz, Bildade e Zofar choraram, rasgaram as vestes e jogaram terra sobre a cabeça. Durante sete dias aqueles amigos guardaram um silêncio solidário para com Jó. Quem dera permanecessem assim! Por quê? Porque aqueles amigos, apesar de serem piedosos e terem conceitos teológicos corretos, faltou-lhes o amor capaz de sentir a dor do outro. Eles usaram uma lógica perversa e passaram de companheiros a acusadores. Eles o acusaram de pecado não confessado, de ser teimoso e arrogante. Na análise fria e dogmática eles tentaram defender os caminhos de Deus, como se o Senhor precisasse de defesa na Sua ação misteriosa no Universo. Eles olharam as explosões emocionais de Jó como uma afronta; enquanto os amigos tentam provar que Jó é pecador e que Deus está certo em puni-lo, Jó preocupa-se exclusivamente com a questão do sofrimento, buscando provar sua inocência.
Muitos falam de Jó como alguém paciente; mas ele diversas vezes parece alguém a ponto de explodir: “Pereça o dia do meu nascimento, e a noite em que se disse: Nasceu um menino!” (Jó 3:3). Sua angustia é profunda e não entende como Deus pode permitir aquilo: “Até quando não afastarás de mim os teus olhos? Quando me deixarás, para que eu tenha tempo de engolir a saliva?” (Jó 7:19). Há um anseio pela morte, pois a dor lhe parece insuportável: “Não é curta a minha vida? Para, deixa-me, para que eu me alegre pelo menos por um pouco; antes que eu seja levado para o lugar de onde não voltarei, para a terra da escuridão e das densas trevas” (Jó 10:20,21). Sua fala incita os protestos dos amigos.
Até que Deus entra em cena e do meio de um redemoinho fala com Jó: “Quem é este que obscurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora prepara-te como homem; porque te perguntarei, e tu me responderás” (Jó 38:2,3). Rapidamente o Altíssimo faz lembrar a Jó quem está no banco dos réus. O mais interessante é perceber que Deus não responde a nenhuma das perguntas de Jó; pelo contrário, Deus lhe faz perguntas inquietantes: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Conta-me, se tens entendimento” (Jó 38:4). A profundidade das perguntas faz calar o audacioso Jó: “Eu não sou digno; que te responderia? Pelo contrário, tapo a boca com as mãos. Falei uma vez, mas não repetirei, ou mesmo duas vezes, porém não insistirei” (Jó 40:4,5).
Mas Deus não parou: “Quem primeiro deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe debaixo do céu é meu” (Jó 41:11). E assim, o Senhor mostrou a Jó que se ele não sabia como o mundo físico funcionava, não seria um ser humano que diria a Deus como o mundo moral deveria funcionar. A ação de Deus fez Jó abrir os olhos para sua limitação em relação à realidade: “[...] e fato falei do que não entendia, coisas que me eram maravilhosas demais e eu não compreendia [...] Com os ouvidos eu tinha ouvido falar a teu respeito; mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:3,5).
Como é triste notar que milhares de crentes seguem a “teologia” fatalista dos amigos de Jó, tentando ligar bênção a uma condição de vida boa. A crise que Jó passou era de fé, não sobre o sofrimento. Muitos olham para seus sofrimentos e questionam: “Por que eu?”; no entanto, não pensam como Deus pode transformar situações adversas em ótimas oportunidades para o crescimento pessoal. Assim foi com Abraão, com Jacó, com o Paulo, os discípulos e o próprio Senhor Jesus. A dor e o sofrimento nem sempre são consequências do pecado, mas no tratamento de Deus, Ele usará qualquer instrumento para fortalecer em nós o caráter de Cristo.

Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

COMPROMISSO NUMA ERA DESCOMPROMISSADA

COMPROMISSO NUMA ERA DESCOMPROMISSADA

Vivemos uma era de profundo descompromisso, principalmente com as instituições e com as regras estabelecidas. Na Era Moderna, as instituições sociais tinham seus arcabouços de referência e pautavam claramente a sociedade e a vida humana. No entanto, na Era Pós-moderna acabou com aquela consistência da sociedade e nos lançou num emaranhado complexo, onde a diversidade das coisas tirou a segurança dos princípios e nos lançou ao vazio dos conceitos. A coletividade, tão importante e necessária à formação do indivíduo foi destruída em nome da individualidade hedonista e egocêntrica. Os laços humanos, antes uma segurança em que as pessoas investiam tempo e esforço, agora são cada vez mais frágeis como uma teia de aranha.
Essa visão trágica da sociedade está refletida hoje também na Igreja de Cristo. O que antes era visto como o espaço do Sagrado, em que palavras como respeito, reverência e compromisso, hoje são vista de outra forma. A Igreja pós-moderna está mais para um shopping Center, em que o Evangelho tornou-se a mercadoria, os pastores tornaram-se empresários da fé, guiados por estratégias de marketing, onde as palavras de ordem não são mais a sã doutrina ou a fidelidade às Escrituras, mas sucesso, bênção, vitória e felicidade pessoal, nem que para isso tenha-se que mudar repentinamente de tática e de estilo, abandonar compromissos e lealdades sem arrependimento para alcançar as próprias preferências.
Por isso, ser Igreja no sentido bíblico da palavra é um desafio ainda maior do que há cinquenta anos. No passado, todos sabiam que ao se comprometer com a Igreja implicava num ato de conversão não apenas espiritual, mas também intelectual. O crer estava ligado ao aspecto doutrinário e à razão da esperança era vista como uma forma concreta de dizer por que Jesus veio e morreu pelos pecados. Hoje em dia, a grande maioria dos chamados cristãos evangélicos estão nas igrejas muito mais motivados por questões puramente emocionais do que numa convicção doutrinária e bíblica.
Não estou falando que a fé cristã é puramente racionalista, mas que o cristianismo sabe muito bem colocar em equilíbrio sua fé, sua razão e sua emoção. O cristão maduro é capaz de desenvolver uma piedade sólida, firmada nas Escrituras e não puramente na manipulação dos sentimentos como em muitas igrejas hoje em dia. Aliás, a piedade é um aspecto do cristianismo que na atualidade está totalmente abandonada simplesmente por que os crentes atuais querem mais sentir-se bem do que crer com firmeza. Há um tsunami de heresias que comprometem a fé verdadeira em nome da felicidade pessoal.
O apóstolo Pedro, advertindo os crentes da Ásia disse: “Portanto, amados, sabendo disso de antemão, guardai-vos para que não sejais desencaminhados pelo engano de homens sem princípios, vindo a perder a vossa firmeza. Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo [...]” (2Pedro 3:17,18a). Esse é o clamor final do apóstolo que dedicou toda a sua segunda carta para advertir sobre os perigos que cercam os cristãos através de homens sem princípios, falsos profetas que aparentam compromisso, mas que na verdade são ímpios e enganam os incautos. Essa advertência continua viva, pois as heresias continuam exercendo grande atrativo em muitos corações.
O Senhor Jesus viu isso nos dias em que esteve na terra. O apóstolo João diz: “E encontrando-se em Jerusalém para a festa da Páscoa, muitos que viram os sinais que ele fazia creram no seu nome. Mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque conhecia todos, e não precisava que lhe dessem testemunho sobre o homem, pois ele bem sabia o que é o ser humano” (João 2:23-25). É exatamente assim hoje! Muitos querem fundamentar sua fé e seu compromisso em sinais, não no Senhor. Jesus não confiava neles, pois conhecia seus corações e sabia que eles estavam interessados na bênção e não no Doador da benção.
Portanto, se quisermos de fato desenvolver uma fé cristã madura e autêntica, necessitamos renovar nosso compromisso com o Senhor e com Sua Igreja. Sim, é imprescindível seguir a Cristo, tomando o caminho mais difícil, andando na contramão desse mundo, desfrutando da imensa graça, mas se submetendo ao senhorio de Cristo.
A Igreja não é um clube social que escolhemos frequentar quando queremos. Não! Ela é a Família de Deus, a Noiva de Cristo, o Exército de Deus, a Nação santa, Povo de propriedade escolhida por Deus! O Senhor Jesus tem um profundo compromisso com Sua Igreja e nós somos chamados a desenvolver o mesmo pacto com o Aquele que ama e morreu pelos santos. Enquanto não levarmos a sério o que Deus deseja fazer através da Igreja, vamos continuar a olhar essa instituição como algo sem muito valor.
Por isso lembro a Palavra do apóstolo Paulo: “E não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Estar amoldado ao esquema do mundo é viver descompromissado com Cristo e a Igreja. Por isso muitos não sabem a vontade de Deus para suas vidas. Que Deus desperte Seu povo para um compromisso radical e pleno com Cristo e Seu Reino!

Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

EVANGÉLICOS E “EVANGÉLICOS”... O QUE SOMOS?

EVANGÉLICOS E “EVANGÉLICOS”... O QUE SOMOS?

Qual o significado do termo evangélico? O Dicionário Michaelis define assim: “adj (Evangelho + ico) 1. Do Evangelho ou a ele relativo. 2 Conforme aos princípios do Evangelho. 3 Pertencente ou relativo ao protestantismo: Igreja evangélica. 4 Caritativo, carinhoso, meigo” (MICHAELIS, 2009). Perceba que o significado é muito interessante e mostraria um grupo que estaria profundamente ligado aos princípios do Evangelho de Jesus Cristo.
Neste aspecto, somos sim evangélicos como parte do movimento cristão protestante que surgiu no século XVII e que se manifestou a partir de 1730 através de diversas vertentes, tais como os Metodistas na Inglaterra e o Pietismo Luterano na Alemanha e Escandinávia. Esse movimento cresceu e se ampliou nos Estados Unidos no Grande Despertamento nos séculos XVIII e XIX, dos quais destacamos Jonathan Edwards (1703-1758), David Brainerd (1718-1747), Charles Finney (1792-1875) e tantos outros.
O evangelicalismo tradicional se baseia praticamente em quatro pilares: 1) A necessidade de conversão pessoal (novo nascimento); 2) A Bíblia como autoridade infalível; 3) Ênfase na morte redentora e na ressurreição de Jesus Cristo; 4) Proclamação do Evangelho ao ser humano pecador. O evangelicalismo destaca a piedade individual (ler a Bíblia e oração) e tira a ênfase nos rituais. A partir disso, somos evangélicos!
Da vertente evangélica surgiram outros movimentos, tais como o pentecostalismo e o neopentecostalismo. O pentecostalismo divergiu da linha tradicional na interpretação da ação e da pessoa do Espírito Santo, enquanto que o neopentecostalismo foi além, rejeitando a base bíblica e partindo para uma interpretação fragmentária das Escrituras, tornando as igrejas em empresas, pastores em CEOs e uma ampla divulgação de uma mensagem baseada num “positivismo” (Confissão positivista), com forte ênfase na prosperidade pessoal como “sinal” da bênção de Deus. Se ser evangélico é pensar como a vertente neopentecostal, então não somos! Não temos nada a ver com esse pessoal, embora falem de Jesus ou cantem como nós. Por quê?
Porque a cada dia essa vertente neopentecostal agride o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo com seus modismos, ideias escabrosas, baseados em sentimentalismos que visam manipular as massas ignorantes da Bíblia. É triste ver a Igreja de Cristo, pastores, irmãos e trabalhos sérios serem tratados como “mercadores” da fé, comparados a outros que constroem seus “reinos” em nome de Deus.
Portanto, chega! Não dá para chamar qualquer um de irmão hoje em dia. A situação está caótica, pois além dessas coisas, ainda temos que lidar com os “apóstolos” medíocres que querem aparecer como “doutores” da Bíblia e com os cantores gospels e suas esquisitices e manias mundanas. A Bíblia já nos adverte: “O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, sob a influência da hipocrisia de homens mentirosos, que têm a consciência insensível” (1Timóteo 4:1,2).
Sim, já estamos vivendo esse tempo em que não é mais o Espírito Santo que tem falado, mas homens carnais, com palavras bonitas e cheias de autoajuda para massagear o ego dos pecadores que enchem os templos. Não duvido nem que muitos estão cheios de demônios, pois algumas declarações são tão descabidas que só podem vir do inferno. Para isso o Diabo é expert, pois distorcer a Palavra de Deus é sua prática desde o início.
É como nos diz Judas em sua carta: “Ai deles! Pois seguiram pelo caminho de Caim, e por causa de lucro se lançaram ao erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Coré. Eles são rochas ocultas e participam de vossas refeições comunitárias, banqueteando-se convosco, sem escrúpulos. São pastores que apascentam a si mesmos. São como nuvens sem água, levadas pelos ventos. São como árvores sem folhas nem fruto, duplamente mortas, cujas raízes foram arrancadas. São como as ondas bravias do mar, espumando suas próprias indecências, estrelas fora de curso, para as quais a escuridão das trevas tem sido reservada para sempre” (Judas 11-13).
Por isso o conhecimento da Bíblia é a diferença fundamental entre a verdade e o engano. Nem tudo que reluz é ouro; nem toda mensagem evangélica é baseada no Evangelho. É hora de despertar e conhecer mais a Deus e Sua Palavra. É hora de cada cristão comprometido com o Senhor Jesus aprender mais da Bíblia e combater a falsidade com a verdade. Como nos diz Pedro: “Mas esses homens que, à semelhança de animais irracionais, vivem por instinto natural para serem presos e destruídos, difamando o que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo a justa retribuição de sua injustiça. Tais homens têm prazer na luxúria à luz do dia. Eles são manchas e máculas, tendo prazer em suas dissimulações, quando se banqueteiam convosco. Têm os olhos cheios de adultério e são insaciáveis no pecar; enganam os inconstantes e têm o coração exercitado na ganância. São malditos” (2Pedro 2:12-14).

Fraternalmente em Cristo, 
Pr. Gilson Jr.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A PÁSCOA DE VERDADE!

A PÁSCOA DE VERDADE!

Essa semana muitos vão “comemorar” a páscoa comercial, adocicada com ovos de chocolate e com ideias que refletem o desconhecimento total dessa festa bela e profunda. Dizer que na páscoa comemoramos o “renascimento” não é apenas absurdo; é de um despropósito fenomenal. Achar que ovos de chocolate ou pintados traduzem o real significado dessa lembrança é de uma ignorância sem limites.
A Páscoa na Bíblia é chamada de Pesah, que significa “passar (por cima/ por alto)” (Êxodo 12:13,23,27; Isaías 31:5). De acordo com Êxodo 12, a páscoa deveria ser comemorada na lua cheia do primeiro mês do ano (abibe = março/abril). No dia dez do mês cada família escolhia um cordeiro de um ano de idade, sem defeito. Esse cordeiro era sacrificado no entardecer do dia 14 e seu sangue era aspergido sobre os batentes e a verga da porta da casa onde era comido o cordeiro. No dia seguinte começava a Festa dos Pães Asmos, que lembrava a humildade em comparação com o fermento que lembra o pecado. O pão sem fermento mostrava também que os hebreus partiram do Egito rapidamente, pois não havia dado tempo para levedar o pão (Êxodo 12:34). Para o judaísmo a páscoa é a celebração da libertação da opressão, simbolizada na última praga do Egito.
Jesus Cristo como um bom judeu celebrou diversas vezes a páscoa. E na noite da celebração da refeição pascal, Jesus Cristo mostrou-se pronto para o momento que Ele estava esperando que era ser entregue como o Cordeiro pascal. E para simbolizar este momento e sua importância, instituiu na refeição pascal a Ceia do Senhor (Mateus 26:17-30). A analogia era clara, pois da mesma forma que o sangue do cordeiro protegeu os hebreus do anjo da morte, provendo libertação da escravidão de Israel, assim o sangue de Cristo seria derramado “em favor de muitos para perdão dos pecados” (Mateus 26:18).
Deste modo, a páscoa ganhou outro significado para nós cristãos: Representa a entrega de Jesus Cristo como remissão de nossos pecados. Cristo agora é a nossa “páscoa” (1Coríntios 5:7; cf. João 1:29; 1Pedro 1:19). Por meio de Cristo Deus faz uma nova aliança baseada, não mais em sacrifícios de animais, mas no sangue de Seu próprio Filho derramado na cruz (Hebreus 8:7-13). Ele foi crucificado na sexta-feira e enterrado antes do início do sábado (Mateus 27:57-61). Mas no domingo Jesus Cristo ressuscitou!
Então o que comemoramos? A páscoa ou a ressurreição? Bem, é claro que como cristãos comemoramos a ressurreição de Jesus Cristo que se deu no período da páscoa judaica. Embora haja semelhanças entre os dois eventos, precisamos compreender cada um deles. A páscoa lembra a libertação espiritual e física que Deus deu para Seu povo Israel, libertando-os de 430 anos de escravidão. A ressurreição nos mostra que Jesus Cristo, “é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29), que nos liberta da morte espiritual, pois fomos “resgatados pelo precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo (1Pedro 1:19).
Podemos concluir da seguinte maneira. A páscoa foi um evento profético, que apontava para o futuro, para a vinda do verdadeiro Cordeiro de Deus que nos libertaria de uma escravidão maior que os grilhões de ferro, de uma opressão maior que a de um ditador. A vinda de Jesus Cristo cumpria as antigas profecias; Ele veio nos libertar da escravidão do pecado, pois “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (João 8:34). Ele disse que é conhecendo a verdade que somos libertos (João 8:32). Mas, o que é a verdade? Seria ela filosófica, ideológica, utópica? Nenhuma destas ideias. A verdade é uma pessoa: Jesus Cristo. Ele declarou: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36). Ele afirmou de forma enfática: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém chega ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6).
Que diferença é comemorar a páscoa bíblica daquela que a maioria comemora hoje em dia. O que temos hoje é um resquício de uma festividade pagã que foi absorvida pelo cristianismo quando chegou ao norte da Europa. A deusa Ostara, também conhecida como Eostre (deusa germânica, que significa Aurora), era a deusa da primavera, do renascimento e tinha como símbolo o coelho. A expressão inglesa Easter (Páscoa, em inglês), na verdade reflete essa influência pagã. Uma das principais tradições desse festival é a decoração de ovos, que representa a fertilidade da deusa.
O que nós cristãos comemoramos nesse período é a ressurreição de Jesus, Aquele que é o nosso Redentor, que nos amou até a morte e se deu para nos livrar de nossos pecados e nos levar para perto de Deus. Sem Ele tudo mais é barulho sem sentido, festa sem graça, consumismo sem plenitude, sorriso sem alegria, comida sem fome. Neste domingo lembre aos outros a mensagem mais maravilhosa que alguém poderia ouvir: Cristo ressuscitou! Sim, Ele verdadeiramente ressuscitou!

Gilson Souto Maior Junior, Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril.

A páscoa e a tradição nômade no antigo Oriente
O historiador, biblicista, arqueólogo e padre dominicano francês Roland de Vaux (1903-1971) afirmou que a páscoa era um sacrifício de nômades ou seminômades, em que não há intervenção de sacerdotes, mas tinha uma profunda relação com o rito de sangue. Era uma festa celebrada na primavera e o sacrifício do animal servia para obter a fecundidade e a prosperidade do rebanho, bem como proteção contra poderes maléficos, ou mashith, o exterminador. Se a páscoa era ou não uma festa já conhecida dos hebreus não sabemos. As evidências desta festa são anteriores a Moisés e ao Êxodo. Entretanto, foi objeto de uma radical reinterpretação a partir da libertação do Egito.