COMPROMISSO NUMA ERA DESCOMPROMISSADA
Vivemos uma era de profundo descompromisso,
principalmente com as instituições e com as regras estabelecidas. Na Era
Moderna, as instituições sociais tinham seus arcabouços de referência e
pautavam claramente a sociedade e a vida humana. No entanto, na Era Pós-moderna
acabou com aquela consistência da sociedade e nos lançou num emaranhado
complexo, onde a diversidade das coisas tirou a segurança dos princípios e nos
lançou ao vazio dos conceitos. A coletividade, tão importante e necessária à
formação do indivíduo foi destruída em nome da individualidade hedonista e
egocêntrica. Os laços humanos, antes uma segurança em que as pessoas investiam
tempo e esforço, agora são cada vez mais frágeis como uma teia de aranha.
Essa visão trágica da sociedade está refletida
hoje também na Igreja de Cristo. O que antes era visto como o espaço do
Sagrado, em que palavras como respeito, reverência e compromisso, hoje são
vista de outra forma. A Igreja pós-moderna está mais para um shopping Center, em que o Evangelho
tornou-se a mercadoria, os pastores tornaram-se empresários da fé, guiados por
estratégias de marketing, onde as
palavras de ordem não são mais a sã doutrina ou a fidelidade às Escrituras, mas
sucesso, bênção, vitória e felicidade pessoal, nem que para isso tenha-se que
mudar repentinamente de tática e de estilo, abandonar compromissos e lealdades
sem arrependimento para alcançar as próprias preferências.
Por isso, ser Igreja no sentido bíblico da
palavra é um desafio ainda maior do que há cinquenta anos. No passado, todos
sabiam que ao se comprometer com a Igreja implicava num ato de conversão não
apenas espiritual, mas também intelectual. O crer estava ligado ao aspecto
doutrinário e à razão da esperança era vista como uma forma concreta de dizer
por que Jesus veio e morreu pelos pecados. Hoje em dia, a grande maioria dos
chamados cristãos evangélicos estão nas igrejas muito mais motivados por
questões puramente emocionais do que numa convicção doutrinária e bíblica.
Não estou falando que a fé cristã é puramente
racionalista, mas que o cristianismo sabe muito bem colocar em equilíbrio sua
fé, sua razão e sua emoção. O cristão maduro é capaz de desenvolver uma piedade
sólida, firmada nas Escrituras e não puramente na manipulação dos sentimentos
como em muitas igrejas hoje em dia. Aliás, a piedade é um aspecto do
cristianismo que na atualidade está totalmente abandonada simplesmente por que
os crentes atuais querem mais sentir-se bem do que crer com firmeza. Há um tsunami de heresias que comprometem a fé
verdadeira em nome da felicidade pessoal.
O apóstolo Pedro, advertindo os crentes da Ásia
disse: “Portanto, amados, sabendo disso de antemão, guardai-vos para que não
sejais desencaminhados pelo engano de homens sem princípios, vindo a perder a
vossa firmeza. Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo [...]”
(2Pedro 3:17,18a). Esse é o clamor final do apóstolo que dedicou toda a sua
segunda carta para advertir sobre os perigos que cercam os cristãos através de
homens sem princípios, falsos profetas que aparentam compromisso, mas que na
verdade são ímpios e enganam os incautos. Essa advertência continua viva, pois
as heresias continuam exercendo grande atrativo em muitos corações.
O Senhor Jesus viu isso nos dias em que esteve
na terra. O apóstolo João diz: “E encontrando-se em Jerusalém para a festa
da Páscoa, muitos que viram os sinais que ele fazia creram no seu nome. Mas o
próprio Jesus não se confiava a eles, porque conhecia todos, e não precisava
que lhe dessem testemunho sobre o homem, pois ele bem sabia o que é o ser
humano” (João 2:23-25). É exatamente assim hoje! Muitos querem fundamentar
sua fé e seu compromisso em sinais, não no Senhor. Jesus não confiava neles,
pois conhecia seus corações e sabia que eles estavam interessados na bênção e
não no Doador da benção.
Portanto, se quisermos de fato desenvolver uma
fé cristã madura e autêntica, necessitamos renovar nosso compromisso com o
Senhor e com Sua Igreja. Sim, é imprescindível seguir a Cristo, tomando o
caminho mais difícil, andando na contramão desse mundo, desfrutando da imensa
graça, mas se submetendo ao senhorio de Cristo.
A Igreja não é um clube social que escolhemos
frequentar quando queremos. Não! Ela é a Família de Deus, a Noiva de Cristo, o
Exército de Deus, a Nação santa, Povo de propriedade escolhida por Deus! O
Senhor Jesus tem um profundo compromisso com Sua Igreja e nós somos chamados a
desenvolver o mesmo pacto com o Aquele que ama e morreu pelos santos. Enquanto
não levarmos a sério o que Deus deseja fazer através da Igreja, vamos continuar
a olhar essa instituição como algo sem muito valor.
Por isso lembro a Palavra do apóstolo Paulo: “E
não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação
da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus” (Romanos 12:2). Estar amoldado ao esquema do mundo é viver
descompromissado com Cristo e a Igreja. Por isso muitos não sabem a vontade de
Deus para suas vidas. Que Deus desperte Seu povo para um compromisso radical e
pleno com Cristo e Seu Reino!
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