segunda-feira, 30 de novembro de 2015

ENTRE A MÃO PESADA DE DEUS E A ESPERANÇA

ENTRE A MÃO PESADA DE DEUS E A ESPERANÇA

O ano de 2015 começou com todas as dúvidas e incertezas que já eram previstas no final do ano passado, principalmente depois das eleições mais polarizadas que tivemos em nosso país. E assim, durante todo o ano vimos à degradação moral, ética, política, econômica e social em nosso querido Brasil; todos foram afetados, direta ou indiretamente pela crise criada nos anos anteriores e chegamos ao fim do ano sem muitas expectativas positivas para os anos que virão. O que fazer quando as notícias não são boas e temos diante de nós expectativas obscuras?
Olhando as Escrituras vejo em nosso país a mão pesada de Deus contra a nação e contra Seu povo também. O pecado da nação não está apenas na corrupção em Brasília, nos “petrolões” que nos assustam e nos indignam todos os dias na operação Lava-jato. O pecado da nação também pode ser visto nos templos e no meio daqueles que se proclamam evangélicos, mas não vivem segundo o Evangelho de Jesus Cristo. O pecado da nação não está apenas na estrutura viciada dos partidos políticos e do sistema corrompido que envolve o poder; o pecado da nação está na falta de coerência daqueles que se chamam “cristãos” e vivem como ateus práticos durante a semana. Sim, o pecado da nação começa entre aqueles que, ao invés de cuidarem do rebanho de Deus e pregar com verdade a Palavra bendita, arrogam para si títulos e dominam seus “impérios”, criando “ministérios” que na verdade apenas proclamam seus nomes e não o Nome bendito de Cristo. O pecado da nação está entre os falsos-apóstolos, entre os bispos e pastores que pregam o consumismo e geram crentes medíocres, shows ao invés de culto, tietes ao invés de adoradores, orgulhosos ao invés de servos.
Sim, a mão de Deus pesa sobre a nação e sobre a igreja também! Olhando o livro de Oséias tive a sensação de que passamos exatamente algo semelhante. Deus fala: “Israelitas, ouvi a palavra do SENHOR; pois o SENHOR tem uma acusação contra os habitantes da terra; porque não há verdade, nem bondade, nem conhecimento de Deus na terra. Só prevalecem maldição, mentira, assassinato, furto e adultério; há violências e homicídios sobre homicídios. Por isso a terra se lamenta, e todos os seus habitantes desfalecem, juntamente com os animais do campo e com as aves do céu, e até os peixes do mar morrem” (Oséias 4:1-3). Essa é uma visão geral do problema da nação e a descrição cabe bem à nossa situação. No entanto, o problema maior da nação de Israel não era a corrupção generalizada, a falta de conhecimento de Deus, a violência, os problemas ecológicos derivados da seca e de desastres. Tudo isso era consequência de algo mais profundo.
Deus diz: “Entretanto, que ninguém venha a contender e que ninguém repreenda; pois a minha contenda é contigo, ó sacerdote. Por isso tropeçarás de dia, e o profeta tropeçará contigo de noite; e eu destruirei a tua mãe. O meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento. Porque rejeitaste o conhecimento, eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, eu me esquecerei de teus filhos” (4:4-6). O povo era culpado de seus erros e pecados, mas tudo que acontecia na época do profeta era consequência de uma liderança espiritual desleixada e preocupada consigo mesma. Deus acusa o sacerdote e o profeta pela falta de conhecimento de Deus entre o povo. Se lermos o restante do capítulo vamos ver Deus os acusando de se alimentarem dos pecados do povo (4:7,8), de observarem a prostituição e a idolatria da nação e cooperarem para a degeneração (4:9-19). O fato de os evangélicos representarem 25% da população não significa nada, pois os mesmos pecados que acusamos são frequentes na “cultura gospel e evangélica” de nosso país. O evangelicalismo brasileiro é sincrético, místico, capitalista e medíocre, baseado no que há de pior da religião, nutrindo uma cultura de ignorância e distanciamento bíblico.
Há esperança? Sim, há esperança. O mesmo Oséias que prega de forma vívida por meio de um relacionamento estremecido por causa de um adultério, numa clara alusão do adultério espiritual de Israel em relação a Deus, nos traz esperança. Em todo o livro, ao mesmo tempo em que o profeta clama contra os pecados da nação, seus olhos estão na redenção futura: “Depois os israelitas voltarão e buscarão o SENHOR, seu Deus, e Davi, seu rei; e, nos últimos dias, tremendo, eles se aproximarão do SENHOR e da sua bondade” (3:5); “Vinde e voltemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou, mas haverá de nos curar; ele nos feriu, mas cuidará das feridas. Depois de dois dias, ele nos revivificará; no terceiro dia nos levantará, e viveremos diante dele. Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR; como o sol nascente, a sua vinda é certa; ele virá a nós como a chuva, como a primeira chuva que rega a terra” (6:1-3).
Chegamos ao fim de ano e certamente não foi um ano fácil. Escândalos, pecados, problemas e situações que podem muitas vezes tirar a nossa esperança. No entanto, se somos de fato o povo de Deus devemos olhar além de nós mesmos e ver o que Ele deseja com tudo isso. Somos chamados a viver segundo a Palavra de Deus, chamados a viver segundo Seus princípios no meio de um mundo corrompido e em trevas. Isso não significa uma vida fácil nem tranquila, mas temos a esperança que não pode ser destruída por nenhum tipo de crise ou circunstância adversa. Como nos diz o profeta no final de seu livro: “Quem é sábio para entender essas coisas? E prudente, para compreendê-las? Pois os caminhos do SENHOR são retos e os justos andarão por eles; mas os transgressores neles cairão” (14:9). Quem é sábio e prudente? Aquele que teme ao Senhor, que faz Dele sua força e segurança. E apesar de todas as adversidades, os santos do Senhor caminham seguros, pois os caminhos de Deus são retos. Portanto, vivamos a cada dia mais dependendo do Senhor, refletindo Sua glória e o Evangelho gracioso, pois mesmo que a situação piore e a mão de Deus continue pesando no ano que entra, Ele mesmo cuidará dos Seus.

Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

A FÉ NÃO É BURRA!

A FÉ NÃO É BURRA!

Cada dia que se passa vemos que a igreja brasileira está mais doente, principalmente com a parafernália criada para atrair pessoas em nome de Cristo. A verdade é que a grande maioria das igrejas evangélicas está mais preocupada em criar meios e formas para “crescer a qualquer custo”, buscando táticas empresariais, métodos humanos e visando muitas vezes o lucro e a sustentação de uma hierarquia eclesiástica. Por exemplo, a Igreja Universal (IURD) que se autodenomina uma igreja evangélica, está promovendo a oração pelos mortos, uma doutrina católica, totalmente equivocada e sem base escriturística. Há grupos que falam de “ativação da unção do Espírito Santo”, como se o Espírito fosse um chip de celular. Haja paciência!
O apóstolo Paulo, esse sim inspirado pelo Espírito Santo, disse: “Mas rejeita as fábulas profanas e insensatas. Exercita-te na piedade” (1Timóteo 4:7). Depois ele adverte ao jovem Timóteo: “Porque chegará o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, desejando muito ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo seus próprios desejos; e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão para as fábulas” (2Timóteo 4:3,4). Ao pastor Tito o apóstolo disse: “[...] Portanto, repreende-os severamente, para que tenham uma fé sadia, não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam da verdade” (Tito 1:13,14). E o apóstolo Pedro coloca de forma clara a quem devemos seguir: “Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2Pedro 1:16).
Ou seja, a Bíblia coloca de forma clara que a fé verdadeira não é burra, nem tola, mas é fruto de um relacionamento verdadeiro com Cristo e fundamentado na Escritura Sagrada. O problema é que a maioria daqueles que se dizem cristãos hoje em dia querem uma religião pirotécnica, com sinais e prodígios, com símbolos e mandingas para favorecer uma ideia totalmente mística. John Stott (1921-2011) disse certa vez: “É surpreendente o número de pessoas que supõe que a fé e a razão são incompatíveis. Mas estas jamais foram postas em oposição uma à outra nas Escrituras. Fé e visão são contrastadas (2Co 5.7), mas não fé e razão. Pois fé, de acordo com as Escrituras, não é nem credulidade, nem superstição, nem ‘uma crença ilógica na ocorrência do improvável’, mas uma confiança calma e refletida em Deus que, conforme se sabe, é confiável” (STOTT, 1992, p. 116).
E aqui temos o calcanhar de Aquiles dos evangélicos brasileiros. Fé tornou-se sinônimo de superstição, algo fantasioso, que precisa ser sentido e definido pelo poder dos “superapóstolos”, dos “ungidos de plantão”. Infelizmente a fé evangélica tupiniquim tornou-se a verborragia religiosa com ares de um espiritualismo doentio, que leva milhares de pessoas a buscarem nas “campanhas” e nos “votos” as respostas de seus anseios pessoais. A fé evangélica atual é permeada por interesses econômicos, onde somente uma “casta superior”, de forma quase gnóstica, se relaciona com um deus manipulável. A verdade é que isso não é Evangelho de Jesus Cristo.
Precisamos compreender que a essência do Evangelho. Paulo vai afirmar: “Examinai a vós mesmos, para ver se estais na fé. Provai a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? A não ser que já estejais reprovados” (2Coríntios 13:5). Por que Paulo solicita um exame cuidadoso dos crentes de Corinto? Porque alguns não estavam em Cristo, apesar de estarem na igreja. O verdadeiro Evangelho glorifica a Jesus Cristo e exalta Seu senhorio e soberania. Como bem disse John MacArthur: “Os cristãos contemporâneos têm sido condicionados a crer que, por terem repetido uma oração, assinado um cartão de decisão, ido à frente, falado em línguas, sido arrebatados em espírito, tido algum tipo de experiência, estão salvos e jamais deveriam questionar a sua salvação” (2008, p. 27).
Sim queridos, a fé não é burra, inconstante e nem fantasiosa. Ela não é motivada pelo marketing de cantores e pregadores, muito menos direcionado por visões ou manifestações aparentemente espirituais. A fé é fruto de um relacionamento pessoa com Jesus Cristo, que nasce da total submissão ao senhorio de Cristo e vive com uma única preocupação: a glória de Deus. A fé é bíblica, fundamentada nas Escrituras e desenvolvida na doutrina; a fé é sóbria, justa e piedosa (1Timóteo 4:5; Tito 2:12,13), que não se preocupa com os ideais de “sucesso humano”, mas com a fidelidade a Deus.
Portanto, meus amados irmãos, fujamos da falsidade, da “fé manipulável”, da “fé gospel”, da “fé comercial” e burra, que leva milhares para longe de Deus. Voltemos nossos olhos à cruz de Cristo, à Sua pessoa bendita, à Palavra de Deus e ao firme fundamento da doutrina cristã.

Abraços fraternos, Pr. Gilson Jr.

MACARTHUR, John. O evangelho segundo Jesus. São José dos Campos: Editora Fiel, 2008.
_____. Com vergonha do evangelho – Quando a igreja se torna como o mundo. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010.
STOTT, John. The contemporany chrstian. Leicester and Downers Grove, 1992.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A NOVIDADE ANTIGA

A NOVIDADE ANTIGA.

É triste ver a condição do cristianismo atual, pois em sua grande maioria os chamados crentes estão à busca de novidades. Essa, aliás, é a tendência do ser humano, como nos diz Lucas ao relatar a atitude dos atenienses e estrangeiros: “Todos os atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam, não tinham outro interesse a não ser contar ou ouvir a última novidade” (Atos 17:21). Que incrível! Literalmente Lucas diz que eles não tinham outro interesse senão falar e ouvir “[...] algo mais novo do que qualquer outra coisa que eles já tivessem ouvido”.
Como disse o inesquecível Sérgio Pimenta (1983): “Toda novidade que vem do vento/ ao peso da força na rotina cai/ na monotonia do pensamento/ que em busca de outra novidade sai”. Sim, o povo evangélico está à busca de contar e ouvir a próxima novidade, não importa se é uma heresia ou não. Vivemos um momento em que as pessoas querem sensações que as façam extrapolar, coisas impressionantes e que empolgam a mente humana. A grande questão é: Será que isso é válido? Até que ponto o evangelicalismo atual não caminha para uma grande desilusão espiritual?
Nesses últimos dias, lendo o profeta Jeremias, percebi que vivemos dias não muito diferentes daqueles vivido pelo profeta. No livro de Lamentações ele deixa claro uma das razões que causou a destruição de Jerusalém e o exílio de Judá: “Os teus profetas te anunciaram visões falsas e insensatas e não denunciaram o teu pecado para evitar o teu cativeiro; mas anunciaram profecias inúteis e palavras que te levaram ao exílio” (Lamentações 2:14). Exatamente isso que vemos hoje em dia, visões falsas e insensatas, ilusões, profecias inúteis que apenas massageiam o ego dos supostos adoradores de Deus. Por que “supostos adoradores”? Porque tudo é feito em nome de Deus, mas na verdade nada é feito para a glória Dele. Nesse caso, Deus não tem nada a ver com as ações humanas, pois como Ele mesmo disse: “Eu sou o SENHOR; este é o meu nome. Não darei a minha glória a outro [...]” (Isaías 42:8).
A expressão religiosa é algo natural do ser humano, mas na grande maioria das vezes não passa de uma cortina de fumaça, uma ilusão que a mente cria a um suposto “deus” criado em nossa mente finita e na qual pensamos controlar. A cultura evangélica brasileira, infelizmente, está à busca de novidades, não importam quais e nem de onde venham. Os templos lotados, os shows e as luzes no palco, os testemunhos de “pessoas ungidas”, tudo hoje gira em torno da pretensa propagação do Evangelho, quando na verdade a glória é humana. A verdade, no entanto, é mais dura e por isso pouco propagada: nunca vi um cristão fiel e verdadeiro ser forjado em encontros de show evangélico ou ambientes parecidos.
O cristão verdadeiro é forjado pela Palavra de Deus, através de uma vida justa, sóbria e piedosa (Tito 2:12). Esse cristão não busca novidades, nem outras “revelações”, pois a novidade do cristão é antiga e completa, já revelada nas Escrituras e que não precisa ser reciclada nem recauchutada. O cristão não olha para outro lugar, a não ser na linha de chegada onde seu Senhor o espera com a coroa da vida (cf. Hebreus 12:1,2; Apocalipse 2:10). Ele corre a corrida proposta por seu Senhor, pois entende que o discipulado implica em seguir os mesmos passos do Mestre (cf. 1Pedro 2:21). A luz que esse cristão deseja ver não é outra senão a glória de seu Senhor, e não o brilho desse mundo. A música que deseja ouvir glorifica Aquele que morreu e ressuscitou e que vive à direita do Pai. Enfim, não há nada de novo na novidade cristã, pois Jesus Cristo é sempre o assunto predileto do cristão.
Sim, o cristão não está à busca de profecias inúteis, mas da palavra profética da Escritura, a Palavra que alimenta verdadeiramente (cf. João 6:27). O cristão tem Cristo e Ele já basta. Como disse Sérgio Pimenta (1983): “Cristo é tudo para todo tempo/ quem Nele se encontra não procura mais”. Como nos diz Paulo: “[...] a realidade é Cristo” (Colossenses 2:17). Portanto, amado cristão, não se iluda com os festivais evangélicos nem com as chamadas “novidades” do mundo gospel. Olhe para Cristo, viva para Ele e busque conhecê-lO mais através da Palavra, porque para quem a realidade é Cristo, nenhuma novidade humana serve mais.

Abraços fraternos, Pr. Gilson Jr.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

UM DEUS TRAÍDO!

UM DEUS TRAÍDO!

Nessa semana um texto de Jeremias (5:1-9) chamou minha atenção, quando Deus diz ao profeta: “Andai pelas ruas de Jerusalém, vede agora, informai-vos e buscai pelas suas praças. Se puderdes encontrar um homem, um só homem que pratique a justiça e busque a verdade, eu perdoarei a cidade” (5:1). É interessante que há uma semelhança muito grande entre o que Deus pede ao profeta para buscar pela cidade de Jerusalém um homem justo e o que fez Diógenes de Sinope (Διογένης ὁ Σινωπεύς; 413-323 a.C.), fundador do Cinismo, quando andava em plena luz do dia com uma lanterna na mão nas ruas de Atenas procurando um homem honesto. Deus ordenou ao profeta que fizesse isso para mostrar o grau de pecaminosidade de Jerusalém.
A questão é que as pessoas em Jerusalém estavam vivendo uma vida profundamente incorreta. É muito interessante que Deus diz que busca alguém “[...] que pratique a justiça e busque a verdade [...]”. Praticar a justiça é agir corretamente com os outros; verdade aqui é ´émûnâ (hn"Wma/), e significa mais que simplesmente a verdade, pois em 5:3 ela é traduzida como “fidelidade” e como “fé” em Habacuque 2:4. Ou seja, os habitantes de Jerusalém viviam de uma forma que confrontava os princípios de Deus. Se o profeta achasse alguém Deus perdoaria a cidade. No entanto, Deus diz: “E ainda que digam: Vive o SENHOR, certamente juram com falsidade” (5:2). Ou seja, a postura deles não era apenas injusta e mentirosa; eles viviam em falsidade diante de Deus, uma vida religiosa apenas de aparências.
Por isso o profeta declara: “Ó SENHOR, por acaso não é a verdade que teus olhos procuram? Tu os feriste, mas não lhes doeu; tu os consumiste, mas se recusaram a receber a correção. Endureceram o rosto mais do que uma rocha e não quiseram se converter” (5:3). Os olhos de Deus procuravam uma postura digna e a visão aqui é de um olhar investigativo da parte do Senhor. Apesar disso o que Deus encontrou foi um povo insensível e duro, incapaz de aceitar a correção e de se converter.
O texto prossegue: “Então eu disse: De fato eles são pobres e insensatos, pois não conhecem o caminho do SENHOR, nem a justiça do seu Deus” (5:4). Para Jeremias os “pobres” são aqueles que não tinham oportunidade para estudar a lei; talvez a questão fosse apenas uma ignorância intelectual, mas essa não era a questão: “Irei aos líderes e falarei com eles, pois conhecem o caminho do SENHOR e a justiça do seu Deus. Mas também eles quebraram o jugo e romperam as cordas” (5:5). Tanto o povo como a liderança do país estava numa situação espiritual calamitosa, de total afastamento de Deus. Quebrar o jugo e romper as cordas expressa uma atitude de rebeldia em relação ao Senhor e mostra que todas as camadas da sociedade estavam corrompidas pelo pecado.
Diante desse quadro Deus determina: “Por isso um leão da floresta os matará, um lobo dos desertos os destruirá, um leopardo ficará à espreita contra suas cidades; todo aquele que delas sair será despedaçado. Porque as suas transgressões são muitas, e a sua rebeldia é grande” (5:6). Na Palestina esses animais selvagens existiam, mas certamente aqui é uma forma figurada para indicar a ação de nações inimigas no território judeu; Deus estava pronto para julgá-los por causa de suas transgressões e rebeldia.
O profeta então diz: “Como poderei perdoar-te? Pois teus filhos me abandonaram e juraram pelos que não são deuses. Depois de eu os haver sustentado, adulteraram e se ajuntaram em bandos nos prostíbulos. Como garanhões bem nutridos, cada um andava relinchando à mulher do seu próximo” (5:7,8). A questão é, de fato, muito séria, a ponto de Deus dizer: “Como poderei perdoar-te?”. O que eles tinham feito ao ponto de Deus fazer essa inquirição?
A questão principal era a infidelidade contra o SENHOR (Yahweh), manifestada numa adoração aos deuses cananeus, principalmente Baal. Deus declara algo bem elucidativo: “[...] Depois de eu os haver sustentado, adulteraram e se ajuntaram em bandos nos prostíbulos”. O Senhor havia sustentado os israelitas, ou literalmente “saciado, satisfeito com comida” ([;BiÛf.a;w"), mas agora eles atribuíam isso a Baal. Por quê? Porque Baal era o deus da guerra e da fertilidade e os judeus, ao invés de glorificarem a Deus pelas bênçãos recebidas, atribuíam isso ao deus cananeu. A adoração cananita estava envolvida por uma forte promiscuidade com seus prostitutos e prostitutas cultuais gerando uma degradação moral profunda. Além disso, a idolatria israelita era comparada ao adultério espiritual.
É profundamente significativo compreender aqui também que Deus se porta como um marido traído. Naquela época os maridos também eram chamados de “baal”, “senhor”. Por isso o profeta Oséias disse cento e vinte anos antes de Jeremias: “Naquele dia, diz o SENHOR, ela me chamará meu marido [yvi_yai; ´îšî]; e não me chamará mais meu Baal [yli([.B;; Ba`lî]. Pois tirarei da sua boca os nomes dos baalins, e ela não mencionará mais esses nomes” (Oséias 2:16,17). Deus não escondeu Sua santa ira por causa da traição de Israel e Judá, bem como a falta de gratidão de Seu povo.
Por isso o texto termina dizendo: “Por acaso não os castigarei por causa dessas coisas, diz o SENHOR, ou não me vingarei de uma nação como esta?” (5:9). Deus não deixaria impune o pecado de Seu povo pelos motivos expostos: Injustiça, falsidade, dureza espiritual, ignorância, rebeldia, ingratidão e adultério espiritual. A pergunta já pressupõe a resposta: “Sim! Deus irá punir o Seu povo, pois foi traído”.
O texto nos chama a uma profunda reflexão quanto nossas atitudes perante o Senhor. Os motivos que levaram Deus a punir Israel e Judá podem ser os mesmo hoje em nossa nação e na Igreja atual. Infelizmente vivemos num país em que a grande maioria professa um Deus que não conhece, não se submete e não O adora, inclusive os chamados “evangélicos”. Não tenho dúvidas que a crise seja um tempo de punição e julgamento sobre a nação, de modo que precisamos orar cada vez mais para que o Senhor cuide daqueles que são Seus em tempos tão difíceis. Uma coisa é certa: “Todavia, o firme fundamento de Deus permanece e tem este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor” (2Timóteo 2:19).

Uma boa semana! Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

ENTRE A SOBERANIA DIVINA E A RESPONSABILIDADE CRISTÃ

ENTRE A SOBERANIA DIVINA E A RESPONSABILIDADE CRISTÃ

Desde o final de 2014 temos presenciado em nosso país uma tensão política, na qual muitos cristãos estão engajados. De fato, razões não faltam, principalmente porque nos últimos anos o país sofreu literalmente um assalto por meio de um partido e de um “projeto criminoso de poder engendrado, concebido e implementado a partir das mais altas instâncias governamentais” (11/10/2012), segundo o decano do Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de Mello. Isso não significa dizer que o partido da presidente da república começou essa ação agora; na verdade, antes disso já havia roubo, corrupção e outras ações perniciosas que sempre destruíram o Estado brasileiro. O problema é que agora a situação passou dos limites.
Diante desse quadro tenebroso temos muitos cristãos que se posicionam de maneiras diversas, às vezes acirrando os ânimos entre os irmãos principalmente se as linhas ideológicas e políticas são diferentes. Diante desses aspectos e da atual conjuntura de nossa nação, temos algumas questões: Como devemos nos portar diante de tudo isso? É lícito criticar o governo e se por contra ele? Até onde caminha a soberana vontade de Deus e a responsabilidade cristã?
O Dr. Wayne Grudem no seu livro “Política segundo a Bíblia” (2014) fala a respeito de cinco visões equivocadas a respeito de cristianismo e governo: 1) O governo deve impor a religião; 2) O governo deve excluir a religião; 3) Todos os governos são perversos e demoníacos; 4) A igreja deve se dedicar ao evangelismo, não à política; e 5) A igreja deve se dedicar à política, não ao evangelismo. Ele declara em seu livro: “[...] os cristãos devem procurar influenciar o governo civil conforme os padrões morais de Deus e conforme os propósitos de Deus para o governo revelados na Bíblia (e devidamente compreendidos)” (GRUDEM, 2014, p. 77).
Nessa questão não podemos impor, nem silenciar, nem se retirar do processo, muito menos pensar que um governo, ideologia ou partido pode salvar uma nação. Precisamos nos comportar como cidadãos do Reino que ainda vivem num sistema caído e que aguardamos com expectativa a chegada do Reino de Deus. Nesse aspecto, devemos sempre lutar contra todas as injustiças, sem perder de vista o controle soberano de Deus. Devemos ser os melhores cidadãos da terra, mas com um único objetivo: revelar a glória de Deus através de nossas ações: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está no céu” (Mateus 5:16).
Muitos irmãos, diante de passagens como Romanos 13:1-7 e 1Pedro 2:13,14, acham errado nos colocarmos contra algum governo. A falta de compreensão dessas passagens faz com que muitos se escondam de uma posição política ou de uma atitude para com algum governo. Se Deus inspirou os apóstolos a escreverem sobre esse assunto, certamente tem como objetivo formar nos cristãos cidadãos responsáveis, mas nunca cidadãos que se curvam a qualquer coisa que esse ou aquele governo faça.
Em Romanos 13:1-7 Paulo mostra claramente que as autoridades exercem poder governamental por ordem de Deus (13:1,2; cf. João 19:11). Os governantes civis “[...] não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas sim para os que fazem o mal [...]” (13:3), o que mostra uma das funções do Estado, que é frear o mal com o uso do castigo (cf. Gênesis 9:5,6). Segundo Paulo, as autoridades dão seu “louvor” ou aprovação (Gr. e;painon; epainon) aqueles que fazem o bem (13:3), sendo “[...] serva de Deus para o teu bem” (13:4). Ou seja, o papel do governo e dos seus funcionários é promover o bem geral da sociedade, promovendo e recompensando a boa conduta. No entanto, isso não significa que devemos considerar bom tudo o que os governantes fazem. João Batista repreendeu Herodes pelas maldades que ele tinha praticado (cf. Lucas 3:19), assim como Daniel repreendeu Nabucodonosor, chamando-o ao arrependimento (cf. Daniel 4:27). A punição de que fala Paulo é para os malfeitores e não para quem pratica o que é correto.
O apóstolo Pedro considera o papel do governo de modo semelhante: “Sujeitai-vos a toda autoridade humana por causa do Senhor, seja ao rei, como soberano, seja aos governadores, como por ele enviados para punir os praticantes do mal e honrar os que fazem o bem” (1Pedro 2:13,14). Aqui é muito interessante notar que Pedro fala da sujeição às autoridades humanas, mas não necessariamente ele diz que ela foi instituída por Deus. O papel do cristão é sujeitar-se “por causa do Senhor”. Como cristãos devemos ser os melhores cidadãos de qualquer país, sem no entanto perder o senso crítico do que ocorre, lutando sempre pelo bem e por tudo aquilo que há de melhor no Evangelho.
Embora a Bíblia nos diga que devemos ser sujeitos às autoridades, isso não implica uma obediência cega e inconsequente, principalmente quando essa obediência implique em desobedecer à ordem do próprio Deus. Por exemplo, após a ressurreição, Jesus ordenou aos discípulos que fossem pelo mundo pregando o Evangelho (cf. Mateus 28:19,20). O Sinédrio, que era a autoridade governamental da Judeia prendeu alguns discípulos, ordenando que eles não pregassem o Evangelho (cf. Atos 4:18). No entanto, Pedro e João foram explícitos em sua desobediência civil: “pois não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4:20). Noutra ocasião Pedro afirmou: “[...] É mais importante obedecer a Deus que aos homens” (Atos 5:29). Os amigos de Daniel se recusaram adorar a imagem de Nabucodonosor (cf. Daniel 3:13-27), assim como as parteiras hebreias desobedeceram as ordens de faraó para matar os meninos que nascessem (cf. Êxodo 1:17,21). Portanto, a desobediência é sim possível, principalmente quando as ordens governamentais atingem frontalmente uma ordem de Deus.
Quero concluir que para os servos de Deus a vontade soberana de Deus é incontestável. Deus não está escrevendo a história, mas ela está caminhando segundo aquilo que Ele mesmo já determinou: “Sou eu que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; sou eu que digo: O meu conselho subsistirá, e realizarei toda a minha vontade” (Isaías 46:10; cf. Isaías 13-23; Jeremias 46-51; Ezequiel 25-32; Amós 1 e 2; Obadias). Deus é soberano no sentido de que Ele planejou, guia e sustenta a história das nações segundo o Seu querer e propósito visando Sua própria glória.
Ou seja, o cristão deve ser um cidadão responsável, mas não deve perder de vista a ação de Deus. Ele pode protestar e lutar por um país melhor “por causa do Senhor” e não por causa de uma ideologia humana, lutar a partir de princípios elevados escritos nas Sagradas Escrituras e não por uma filosofia ou um partido político. Aguardamos a chegada do Rei, mas isso não implica em imobilismo político e isolamento de pensamento. Todas as vezes que os cristãos se levantaram da maneira correta, essa ação trouxe melhoria às pessoas e a glória de Deus. Grandes mudanças começam com pequenas atitudes; testemunhar de Cristo não implica apenas falar do que Ele fez por nós para a eternidade, mas o que Ele já muda agora. Para o cristão a vida eterna se iniciou no dia de sua conversão e a partir dali seu exemplo tem que brilhar como luz nas trevas.

Uma boa semana! Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

CRISTÃO, SIM... GOSPEL? JAMAIS!

CRISTÃO, SIM... GOSPEL? JAMAIS!

Cada dia mais estou convencido de que o chamado “avanço evangélico” no Brasil é um desastre religioso de proporções épicas e ainda inimagináveis. O que hoje é chamado de “evangélico” não significa de fato o que diz o vocábulo, pois o significado seria “aquilo que pertence ao Evangelho”. No entanto, “evangélico” virou sinônimo de “gospel”, de uma corrente religiosa, que se apropriou de partes desconexas da Bíblia, que tirou Jesus Cristo do centro da pregação e colocou o ser humano, enfatizando muito mais as “vantagens” que “Deus pode dar” aqueles que vão à igreja e “compram” favores desse deus estranho que mais parece um mordomo celestial.
Renego veementemente esse evangelicalismo distorcido, idólatra e herético. É distorcido por tratar a Bíblia e seus ensinos à luz das ciências humanas (psicologia, sociologia, filosofia), tomando o bem-estar do ser humano como foco da ação de Deus. Deus não está comprometido com o ser humano, mas com a Sua própria glória em primeiro lugar! Deus não é mordomo de ninguém e tudo que faz visa Sua imensa glória e louvor, inclusive o ser humano. Essa inversão perniciosa, que coloca o ser humano como um alvo último de Deus é a falta de uma exegese e hermenêuticas sérias e comprometidas em ler a Escritura com a visão correta. Infelizmente a maioria dos pastores e “superapóstolos” pregam uma “psicologia de botequim”, uma autoajuda destrutiva e perniciosa.
Esse evangelicalismo tupiniquim é idólatra, pois venera seus “ungidos” e “superapóstolos”, assim como os cantores que entoam apenas para a glória deles mesmos. Essa idolatria é financiada pelos próprios adeptos dessas igrejas, que lotam seus “shows” em nome de uma adoração às avessas. Os aplausos não visam à glória de Deus, mesmo que digam o contrário. São letras e músicas humanistas, pregações e ensinos motivados por dinheiro e ganância.
Sim, o evangelicalismo verde-amarelo é torpe e herético, beirando o mau cheiro do inferno que engana os incautos com suas “doutrinas” esquisitas e manipuladoras. Chega a ser incrível que as pessoas ainda acreditem em “dentes de ouro”, “unções dos quatro seres”, “maldição hereditária”, “unção de Manassés” e tantos outros absurdos pregados nos milhares de púlpitos em nosso país. As igrejas deixaram de ser lugares de devoção, piedade, ensino e congraçamento da fé para serem casas de espetáculo de um show barato, de animadores de palco que massageiam os egos inflados de pecadores que caminham para o inferno pensando que vão para o céu.
Sim, renuncio essa falsa manifestação de fé, pois não existe fé verdadeira nisso. Paulo já enfrentava pessoas assim no primeiro século e não teve dúvidas em advertir: “Tomai cuidado com esses cães; cuidado com os maus obreiros; cuidado com a falsa circuncisão!” (Filipenses 3:2). Para os judeus, os cães eram os mais miseráveis e desprezíveis de todas as criaturas, usando por vezes esse termo aos gentios. Por que eles pensavam assim? Provavelmente porque esses animais perambulavam em matilhas nas cidades, sem lar e sem dono, alimentando-se do lixo das ruas, lutando entre si e atacando outras pessoas. Certamente Paulo não está tecendo nenhum elogio aos falsos obreiros e pregadores, mas adverte a igreja a não seguir pessoas assim. Por isso ele mesmo vai afirmar no final desse capítulo: “porque há muitos, sobre os quais vos falei diversas vezes, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição; o deus deles é o estômago; e a glória que eles têm baseia-se no que é vergonhoso; eles se preocupam só com as coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19).
Sou cristão e para mim isso já basta. Não quero nada com esses inimigos da cruz que andam no meio do rebanho de Cristo, que se parecem como servos da justiça, mas na verdade servem a si mesmo, tendo como deus o próprio estômago, ou seja, se preocupam apenas com a vida material e corporal. Esses buscam apenas sua glória e os aplausos dos seguidores medíocres que nada conhecem da Palavra de Deus, pois se conhecessem rejeitariam suas heresias.
Cristão sim, gospel jamais! Cristão sim, Universal, Internacional da Graça, Mundial, Renascer ou qualquer outra nomenclatura desse cristianismo pós-moderno e neopentecostal, nunca! Cristão sim, que compartilha do Evangelho do Senhor Jesus e procura viver segundo Seus princípios, pregando unicamente a cruz de Cristo e clamando aos servos de Deus que não deixem de olhar para Aquele que morreu e ressuscitou por nós.
Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, falou sem meias palavras: “Mas esses homens que, à semelhança de animais irracionais, vivem por instinto natural para serem presos e destruídos, difamando o que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo a justa retribuição de sua injustiça. Tais homens têm prazer na luxúria à luz do dia. Eles são manchas e máculas, tendo prazer em suas dissimulações, quando se banqueteiam convosco. Têm os olhos cheios de adultério e são insaciáveis no pecar; enganam os inconstantes e têm o coração exercitado na ganância. São malditos” (2Pedro 2:12-14). Ou seja, esses homens são pessoas que buscam seus próprios interesses mundanos, corruptos, injustos, luxuriosos, dissimulados, adúlteros, pecadores contumazes, enganadores e gananciosos. Não é a toa que são chamados por Pedro de “malditos”, pois são filhos de Balaão.
Portanto, convido você a seguir a Jesus Cristo e ser Seu discípulo. Convido você a buscá-lO através das Escrituras, da oração, da vida em comunhão com os irmãos, com o compromisso com a Igreja do Senhor, a buscá-lO com amor e desejo de servi-lO e não de ser servido. Ser cristão é andar nos mesmos passos de Jesus a cada dia. Assim como Paulo, não cheguei à perfeição, mas caminho todos os dias olhando para o alvo, que é Cristo. Todos os dias meu coração tem mais fome de Jesus e por isso, faço o mesmo apelo de Paulo: “Irmãos, sede meus imitadores e prestai atenção nos que andam conforme o exemplo que tendes em nós” (Filipenses 3:17). Cristão sim... Gospel? Jamais!

Uma boa semana! Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

domingo, 2 de agosto de 2015

JOVENS FORTES!

JOVENS FORTES!

O apóstolo João já era idoso quando escreveu: “[...] Jovens, eu vos escrevo porque vencestes o Maligno [...] Jovens, eu vos escrevi porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno” (1João 2:13b,14c). Ao ler o texto podemos perceber que a referência aos jovens parece ser intencional, pois ele fala aos pais e às crianças apenas uma vez. Entre esses dois grupos (filhinhos e pais) estão os jovens. Qual o objetivo do apóstolo em dar essa ênfase?
A juventude é um dos momentos mais importantes da existência humana, embora seu conceito seja algo ainda sem uma definição completa. Pierre Bourdieu (1930-2002) fala que o conceito de juventude é algo manipulada e manipulável (PAIS, 1990, p. 140), algo arbitrário e que tende a impor limites e impor limites e produzir uma ordem. Como ele mesmo diz: “Somos sempre o jovem ou o velho de alguém. É por isto que os cortes, seja em classes de idade ou em gerações, variam inteiramente e são objeto de manipulações [...] O que quero lembrar é simplesmente que a juventude e a velhice não são dados, mas construídos socialmente na luta entre os jovens e os velhos. As relações entre a idade social e a idade biológica são muito complexas” (BOURDIEU, 1983, p. 113).
Se em nosso tempo ser jovem parece ser algo sem muita certeza, nos tempos de João e na sociedade judaica em especial, era algo muito claro e funcional. Aos treze anos o homem (e doze para as mulheres) entrava na vida adulta por meio do Bar Mitsvah (Filho do mandamento), quando ele atinge a idade para se comprometer com a Lei de Deus e com Sua aliança. O jovem era alguém que estava entre os 20 e 50 anos, o que representa alguém no auge de sua força física e mental, tendo oportunidades para aprender e desenvolver o aprendizado.
A vida cristã não consiste em viver grato pela salvação apenas, mas também de lutar pelo Evangelho de Cristo e combater o inimigo. O perdão dos pecados deve ser acompanhado por um desejo intenso de rejeitar o sistema do mundo e buscar a santificação. Assim, João escreve aos jovens da igreja e coloca-os como vencedores e isso aponta para a força da igreja.
Jovens, vocês foram chamados a se envolverem com a causa de Cristo. Não há espaço para ficar de braços cruzados, esperando que algo aconteça do céu ou que um anjo os guie. No jovem há força, ideias, flexibilidade e tantos outros atributos importantes quando falamos de ministério no Corpo de Cristo. Quando os jovens param a igreja sofre muito, pois a força física e criativa da igreja fica inativa.
Infelizmente Satanás tem atacado os jovens e adolescentes de nosso tempo, seja com as distrações desse tempo, tais como as redes sociais, no mundo com lugares cheios de outros jovens, com bebidas, sexo e tantas outras armadilhas, seja com críticas ao Evangelho e à Igreja. Para muitos a igreja não é o lugar do jovem; no entanto, não há engano mais do que esse.
Quando olhamos as Escrituras vemos que Deus usou jovens com grande poder: José, Samuel, Davi, Isaías, Jeremias, Daniel e seus amigos e tantos outros. O Senhor Jesus desde cedo tinha plena consciência do Seu chamado já aos doze anos de idade (cf. Lucas 2:42-52). O próprio João era o mais novo dos discípulos de Jesus e participou ativamente da obra missionária desde o início ao lado de Pedro. O jovem Timóteo foi discípulo de Paulo e muito importante na obra missionária do apóstolo.
Deus ama usar os jovens e o que eles precisam é seguir a orientação que João deixou: “[...] e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno”. Por que são fortes? Porque a Palavra de Deus permanece neles, porque captaram a revelação cristã e procuram amoldar suas vidas às exigências éticas que Deus determina. Não é assim que diz o salmista? “Como o jovem guardará puro o seu caminho? Vivendo de acordo com a tua palavra [...] Guardei a tua palavra no meu coração para não pecar contra ti” (Salmo 119:9).
Vencer o maligno é a consequência de permanecer na Palavra. E você, querido adolescente e jovem, também poderá vencer o maligno e glorificar a Deus quando permanecer na Palavra. E o que significa permanecer na Palavra? Significa mais do que decorar versículos, mais que frequentar a Igreja. Permanecer na Palavra significa permanecer em Jesus: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira; assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:4,5). Permanecer em Cristo significa viver debaixo de Seu senhorio, alinhado com Sua vontade expressa nas Escrituras, crendo que é melhor ser fiel a Cristo do que ao mundo. Permanecer em Cristo significa dizer “sim” à vontade de Deus e “não” ao pecado; significa amar a Deus de todo o coração e resistir ao diabo.
Portanto, acorde jovem! Saia do sistema do mundo que diz que você tem que viver a vida e morra para si mesmo. Saia do sistema que diz que você deve encontrar satisfação em si mesmo e busque a satisfação unicamente em Cristo. Saia do casulo pós-moderno e embarque na maior aventura de sua vida, seguir a Cristo até o fim!

Uma boa semana! Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O CRISTIANISMO NA FRANÇA

O CRISTIANISMO NA FRANÇA

O cristianismo penetrou na antiga província romana da Gália já no segundo século, quando surgiram pequenas comunidades cristãs no sul, principalmente em Lyon. No ano 177 d.C. essa igreja sofreu com a perseguição do imperador Marco Aurélio (121-180 d.C.). Dentre os maiores líderes e teólogos da igreja antiga destaca-se Irineu (Εἰρηναῖος), o ilustre bispo de Lyon, que morreu no ano 202 d.C. Como a história é extensa, vamos dar apenas uma noção cronológica dos fatos mais importantes.
·         Natal de 496 d.C.: O rei dos francos, Clóvis, foi batizado juntamente com três mil dos seus guerreiros e assim os ancestrais dos atuais franceses foram a primeira nação germânica a abraçar o cristianismo ortodoxo, trinitário, quando outros povos bárbaros já haviam aderido a uma concepção herética da fé cristã, o arianismo antitrinitário, negador da divindade de Cristo.
·         732 d.C. Carlos Martel (686-741 d.C.) derrota os exércitos muçulmanos procedentes da Península Ibérica na célebre e decisiva batalha de Tours, na França central. Ele inaugura uma nova dinastia, os Carolíngios, que durante o reinado do seu filho Pepino, o Breve (714-768 d.C.), solidificou-se uma simbiose entre a igreja e o poder secular que traria certas vantagens, mas também grandes malefícios para o cristianismo francês.
·         752 d.C. Pepino cedeu à Igreja os territórios da Itália central que vieram a constituir os Estados Pontifícios, que perduraram até o século XIX.
·             Natal de 800. Carlos Magno (742-814 d.C.), filho de Pepino, foi coroado imperador pelo papa Leão III em Roma. Ele foi o maior monarca do período inicial da Idade Média, promovendo a cultura (“renascimento carolíngio”), protegendo a igreja e ajudando os papas. Assim, os monarcas franceses sentiram-se no direito de exercer um controle crescente sobre a igreja, seus líderes e suas instituições. Isso gerou por séculos  uma constante luta pela supremacia entre os dois poderes, o estado francês e a cúria romana.
·       Século IX. Anskar de Hamburgo, monge franco, ficou conhecido como o apóstolo do norte, por ter sido o pioneiro cristão entre os vikings da Escandinávia.
·          Século X. O Mosteiro de Cluny que deu origem a um movimento reformador que muito beneficiou a igreja, purificando a sua liderança e reivindicando maior autonomia em relação ao poder temporal. Destaca-se aqui o monge Hildebrando, que se tornaria depois o papa Gregório VII.
·    Século XI. Surge na França a seita dos cátaros ou albigenses, que praticava um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, chegando a um extremo asceticismo. Condenados pelo 4º Concílio de Latrão (1215; Inocêncio III), os cátaros foram aniquilados por uma cruzada e pelas ações da Inquisição, oficializada em 1233.
·         Século XII. Os valdenses, surgidos em Lyon, foram condenados pelo Concílio de Verona em 1184, e perseguidos por vários séculos. Mais tarde abraçaram a Reforma Protestante.
·       Século XIII. Filipe IV, o Belo (1285-1314) fortaleceu a monarquia e preparou a França para tornar-se o primeiro estado nacional moderno. Ele entrou em confronto direto com o papa Bonifácio VIII (1294-1303), rejeitando qualquer intromissão de Roma nos assuntos internos da França, especialmente nas áreas econômica e judicial.
·      Século XIV. Ocorreu um acentuado declínio e descrédito para a igreja quando o papa francês Clemente V (1305-14) transferiu a Cúria para Avignon, no sul da França, dando início ao chamado “cativeiro babilônico da igreja” (1309-1377). A situação agravou-se ainda mais durante o Grande Cisma, em que por 40 anos houve papas rivais, um em Roma e outro em Avignon (1378-1417), ouvindo-se em toda a Europa um clamor por “reformas na cabeça e nos membros”.
·        Século XVI. A França era a maior potência da Europa, sendo governada por monarcas absolutistas. No início do seu reinado, Francisco I (1515-1547) firmou com o papa Leão X a Concordata de Bolonha (1516), que aumentou sensivelmente o poder da coroa sobre a igreja, concedendo ao monarca o direito de indicar os bispos e outras autoridades eclesiásticas. Foi nesse contexto que começaram a surgir na França às ideias revolucionárias pregadas pelo monge alemão Martinho Lutero, que propunha uma radical reforma teológica e institucional da Igreja com base nos princípios da centralidade das Escrituras, da justificação do pecador pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, e do sacerdócio universal de todos os fiéis.
Até 1520 Francisco I mostrou-se tolerante para com os protestantes franceses. No entanto, a tolerância transformou-se em hostilidade quando as circunstâncias políticas o levaram a precisar do apoio da hierarquia francesa e do papa, que agora, em troca desse apoio, exigiam a supressão dos protestantes. Como parte da aproximação com Roma, o rei promoveu o casamento do seu filho Henrique com Catarina de Médici, uma sobrinha do papa Clemente VII. A situação complicou-se ainda mais quando elementos protestantes radicais apelaram para a violência e iconoclasmo (destruição das imagens).
A partir de 1533, a perseguição de Francisco I contra os protestantes alternou-se entre prisões, torturas e execuções, e, ocasionalmente, a moderação exigida pelas alianças com os príncipes luteranos alemães na luta contra o imperador Carlos V. Muitos protestantes foram protegidos da severidade do rei pela sua própria irmã, Marguerite d’Angoulême, esposa do rei Henrique de Navarra, outra simpatizante das novas ideias.
O movimento de reforma na França precisou de auxílio externo, e esse veio da igreja reformada de Genebra, sob a firme liderança do mais ilustre dos protestantes franceses, o pastor e teólogo João Calvino (1509-1564). Calvino tornou-se conhecido em 1536, quando publicou a primeira edição da sua importante obra, As Institutas da Religião Cristã. O prefácio é uma longa carta a Francisco I, apelando em favor dos perseguidos. Com isso, repentinamente Calvino viu-se transformado no grande líder, ideólogo e apologista do protestantismo francês.
A partir de Genebra muitos pastores foram treinados e enviados à França. A igreja protestante sofreu muitos martírios, com crentes sendo torturados de forma horrível e alguns tendo suas línguas cortadas para não anunciarem sua fé. O episódio mais infame desse período foi a Noite de São Bartolomeu (24/08/1572) que eliminou cerca de 20 mil huguenotes (protestantes). Em 1598 foi proclamado o Edito de Nantes que concedia aos huguenotes liberdade de culto, sendo eles 15% da população nessa época. No entanto, em 1685 Luís XIV revogou esse Édito e provocou um êxodo de 300 mil huguenotes para a Europa e Estados Unidos. A igreja protestante francesa ficou conhecida como “A igreja no deserto”.
O protestantismo francês foi importante na luta pela liberdade de culto e de consciência. Muitos protestantes apoiaram a Revolução Francesa e se comprometeram que a religião jamais interferisse na vida civil com violência. Hoje a França clama por salvação, pois o laicismo retirou a fé do coração francês. Durante essa semana ore pela França e pelas igrejas que ainda sobrevivem numa cultura secularizada e sem Deus.

Uma boa semana! Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

sábado, 11 de julho de 2015

O CRISTIANISMO NA ESPANHA

O CRISTIANISMO NA ESPANHA

No século I o apóstolo Paulo expressou seu desejo de ir à Espanha: “Mas, agora, não tendo mais o que me detenha nessas regiões, e tendo já há muitos anos grande desejo de visitar-vos, eu o farei quando for à Espanha; pois espero ver-vos de passagem e ser encaminhado por vós para lá, depois de experimentar um pouco da vossa companhia [...] Tendo concluído isso, e certificando-me de que receberam esse fruto, partirei para a Espanha, passando para visitá-los” (Romanos 15:23,24,28). Não sabemos ao certo se Paulo concretizou esse desejo, mas sabemos que já no ano 100 d.C. o Evangelho tinha chegado na península Ibérica. Segundo a tradição, Tiago Zebedeu, irmão de João, após o Pentecostes do ano 33 d.C. teria cruzado o Mediterrâneo e chegado à província da Hispânia. No entanto, existe mais lenda que fatos históricos em relação a esse discípulo de Cristo, que foi morto por ordem de Herodes (cf. Atos 12:1,2).
Na verdade a história do cristianismo na Espanha possui poucas informações, mas pelo desenvolvimento do cristianismo entre os anos 100 a 313 d.C. a fé cristã tornou-se uma forte influência civilizadora no sul da Gália, na Espanha, na Itália e no norte da África (NICHOLS, 1960, p.29). Entre 313-590 d.C. o mundo ocidental viu a fé cristã sair das catacumbas e chegar ao palácio imperial, primeiro com Constantino (272-337 d.C.), que tornou o cristianismo uma religião permitida e depois com Teodósio I (347-395 d.C.), que tornou a fé cristã em religião estatal. Aliás, Teodósio nasceu na Espanha.
A partir do ano 409 d.C. a região começou a sofrer as invasões dos povos germânicos, o que produziu grande destruição, pois as instituições civis romanas desapareceram. Depois chegaram os suevos e visigodos, povos que haviam sido cristianizados a partir da heresia ariana. Esse período foi conturbado, pois a maioria da população cristã dessa região era formada pela tradição de Nicéia, que aceitava a Trindade, e os invasores começaram a perseguir os cristãos tradicionais. Nos séculos IV e V, num ocidente que se desintegrava, a Igreja foi a única instituição que permaneceu de pé e protegeu os pobres, pois contava com hospitais, refúgios para estrangeiros, orfanatos e auxílio às viúvas. No entanto, esse período também marca uma grande leva de cristãos nominais, que nada conheciam do cristianismo.
A partir do século V, enquanto Leão I (400-461 d.C.) sustentava e fortalecia o poder do bispo de Roma, a Espanha fortalecia-se seguindo o catolicismo de Roma. Tudo começou com a conversão do rei visigodo Recaredo I (586 d.C.), que passou a proteger a Igreja e assim iniciou-se a forte união entre Igreja e Estado na Espanha. Isso ficou evidente nos Concílio de Toledo – celebrado entre 397 a 702 – que tratavam de assuntos religiosos como políticos.
No século VIII os árabes conquistaram sem dificuldade o norte da África e boa parte da península Ibérica (711-718 d.C.), mantendo os reinos cristãos mais ao norte da região. Aos cristãos e os judeus foi permitido cultuar à sua maneira, desde que pagassem tributos. No século XI os reinos árabes se fragmentaram em reinos rivais e isso favoreceu os reinos cristãos que começaram um processo de expansão. As idas e vindas de guerras de reconquista durou sete séculos até a queda de Granada em 1492. Em Portugal a reconquista terminou mais cedo, em 1249.
Na transição da Idade Média para a Idade Moderna surgiram os reis católicos, Isabel e Fernando, unindo as duas coroas, a de Castela e de Aragão. Eles foram importantes na formação do reino espanhol, bem como o estabelecimento do catolicismo romano. Eles foram responsáveis pela expulsão dos judeus da Espanha em 1492 e em 1502, um novo édito dizia que somente cristãos eram permitidos no território da monarquia. Muitos judeus e mouros foram batizados, mas isso resultou numa rebelião que terminou com a expulsão dos mouros em 1609.
A Reforma Protestante iniciada por Lutero em 1517 chegou à Espanha em 1519 com os primeiros escritos traduzidos, especialmente o comentário aos Gálatas. Entretanto, o rei Carlos V (1500-1558) foi importante para a supressão do protestantismo na Espanha, pois foi ele quem forçou o Concílio de Trento (1545-1563), que deu início a Contrarreforma. A inquisição, que chamava os protestantes de luteranos, embora a maioria fosse de linha calvinista, começou uma grande perseguição contra as comunidades protestantes, surgindo assim os primeiros mártires protestantes. O primeiro “ato de fé” contra os protestantes foi celebrado em Valladolid em 21 de maio de 1559, quando catorze pessoas foram mortas e outras dezesseis foram castigadas publicamente.
Diante da perseguição muitos protestantes espanhóis fugiram para a Suíça, Alemanha e Inglaterra. Em 1543, Francisco de Enzinas publicou sua versão do Novo Testamento, baseado no texto grego de Erasmo de Roterdã, a quem dedicou ao imperador Carlos V. Em 1556, João Pérez, natural de Sevilha, publicou sua versão do Novo Testamento e dos Salmos. Mas certamente o trabalho mais importante foi de Casiodoro de Reina (1520-1594), que fugindo da Inquisição e depois de muitos contratempos, conseguiu publicar a Bíblia em 1569. Em 1602, Cipriano de Valera (1532-1602) publicou a revisão de Casiodoro e chegou a ser a versão mais usada pelos protestantes de língua espanhola até hoje.
No final do século XVIII e início do século XIX se deu uma forte expansão das missões protestantes, embora fossem clandestinas. Em 1868 os protestantes receberam a liberdade de culto chegando a ter trinta mil membros. Mas na guerra civil espanhola, os franquistas perseguiram os protestantes, obrigando muitos pastores a abandonar o país. Acabada a guerra, o ditador Francisco Franco (1892-1975) mandou confiscar todas as Bíblias não católicas e fechar todas as escolas protestantes. Foi suprimida a liberdade de consciência e o franquismo decidiu expurgar a memória protestante na Espanha. Somente depois da Constituição de 1978 que os protestantes tiveram restaurada a liberdade religiosa pela lei espanhola.
Quando você orar essa semana, coloque diante de Deus a Espanha. Ore para que Deus amplie Sua obra naquele país. Embora mais de 76% da população se diga cristã (católica), mais de 20% se diz sem religião ou ateu. Ore para que os projetos missionários alcancem esse povo que hoje é escravo do consumismo, do secularismo e da frieza espiritual.

Uma boa semana! Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

MUITO ALÉM

MUITO ALÉM

Deus não espera de nós apenas aquilo que está na medida da capacidade humana. A obra de Deus é sobrenatural e está além da nossa capacidade. Os campos são visíveis e são apenas o ponto de partida do que Deus pode fazer a partir do momento em que nós vestirmos o uniforme do Exército de Cristo.

Desta forma, não há “um craque” ou “alguém superdotado”, há simplesmente vasos frágeis nas mãos de um poderoso Deus. Pois é Ele quem tira força do fraco e levanta o abatido de espírito. Ele é quem usa o tolo para confundir o sábio e da miséria traz abundância.
Porque Ele é o Senhor, dele é a obra e é Ele quem deseja salvar pecador da condenação eterna, portanto Ele que usa a quem se dispõe e os capacita a servir muito além do esperado.

Ele espera muito mais de nós porque é Ele quem vai nos usar muito além daquilo que pedimos ou pensamos. O local onde estamos é apenas o ponto de partida para a ação de Deus, por isto a vitória vai muito além dos campos.

É exatamente a partir de onde você está que Deus vai começar a usá-lo, seja na escola, universidade, trabalho, vizinhança, no esporte, nas amizades, etc. Desta forma basta determinar o ponto de partida e deixar que Deus o use sabia e poderosamente.

 “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém”. Efésios 3.20-21.

Pr. César Soares
Missionário Itinerante
Coordenador Macrorregião São Paulo – Zona Norte-Oeste da Capital

sábado, 20 de junho de 2015

ANGÚSTIA, DESESPERO, SOLIDÃO E DOR


ANGÚSTIA, DESESPERO, SOLIDÃO E DOR

Meu nome é Carmem (nome fictício) tenho 44 anos e me encontro no cárcere desde 2002. Tenho sete filhos, mas, desde a minha prisão, não tenho contato físico com eles, só por meio de cartas. Cinco dos meus sete filhos estão em abrigos. Enquanto vivia em liberdade, eu lutei para dar o que comer e vestir para todos eles.
Fui condenada a uma pena de 52 anos, acusada de participação da morte de 4 pessoas de uma mesma família. Isto porque, a justiça entendeu que eu dei apoio moral e material ao meu ex-marido e o outro amigo dele para cometer os crimes.
Não quero aqui dar uma de vítima e acusar a sociedade ou a justiça, mas, meu único erro foi me envolver com uma pessoa voltada para a criminalidade.
Passei por várias cadeias até chegar no local onde estou, Penitenciaria Feminina de Santana. Angustia, desespero, solidão e dor sempre estiveram presentes em meu coração. A saudade dos meus filhos é certamente o maior desafio a ser enfrentado. Já passei por algumas rebeliões dentro da cadeia e posso afirmar que já experimentei coisas terríveis no cárcere.
O medo, a incerteza e a depressão estão sempre presentes, atormentando nossa alma e perturbando nosso sono. Várias vezes presenciei colegas tentarem o suicídio.
É justamente nesses momentos de desespero que encontramos pessoas que trazem uma palavra de esperança. Após 8 longos e sofridos anos de prisão eu ouvi a Palavra de Deus através dos irmãos da Igreja Batista que anunciaram a liberdade que podemos encontrar em Jesus Cristo.
Tudo transformou-se em minha vida. Eu que antes era depressiva, vivia no meu canto chorando e lamentando meu erro, aceitei o perdão de Deus para os meus pecados e compreendi o quanto Ele me ama e me aceita do jeito que eu sou.
A palavra de Deus tem sido, de fato, o alimento para minha alma nesse lugar. Como precisamos ouvir a Palavra que liberta! A cada sábado, esperamos ansiosamente pela visita dos irmãos e pastores para alegrar o nosso coração com os cânticos e a doce palavra que nos tira do lamaçal do pecado e coloca-nos sobre a rocha.
Quero sempre servir a esse Deus e sei que um dia vou sair desse lugar e poderei reconstruir minha família e demonstrar a todos o poder de Deus que transforma a qualquer pecador.

Fruto do trabalho missionário entre Presídios
Liderado pelo Pr. Ozeías Nascimento Sampaio.  

Esse e outros testemunhos foram preparados por nossos missionários, apresentando os frutos do trabalho.Outros testemunhos e materiais estão disponíveis no site : www.cbesp.org.br

quinta-feira, 11 de junho de 2015

CRER NAS PROMESSAS DE DEUS

CRER NAS PROMESSAS DE DEUS

O ser humano, apressado em satisfazer os desejos do próprio coração, enganosamente tem caído nas armadilhas da precipitação quando o preferível seria ponderar realisticamente os prós e contras das escolhas e decisões que toma. O exemplo de Esaú, descrito em Gênesis 25.29-34, é típico, pois, por causa da fome que sentia, precipitadamente, vendeu o seu direito de primogenitura ao irmão Jacó. Na hora da fome, Esaú valorizou mais a necessidade do momento do que a do amanhã. Arrependeu-se depois, mas foi tarde demais. Por uma necessidade momentânea, perdeu o futuro de vantagens imensuráveis garantidas pelos princípios divinos da primogenitura.
Voltando para a realidade dos nossos dias, vemos o ser humano trocando o futuro correto pelo incorreto por fazer escolhas e tomar decisões, no dia-a-dia, sem pensar seriamente nas suas consequências. O futuro a que me refiro, não é apenas daqui a dez, vinte, sessenta ou mais anos, mas, sim e principalmente, à eternidade. Da parte de Deus, todos nós temos a promessa de um futuro eterno de vantagens imensuráveis, mas, desprezando essa necessidade, muitos têm preferido vendê-lo ou ignorá-lo para satisfazer as suas necessidades da presente vida, sem pensar no que estão perdendo em relação ao amanhã. Definem o seu campo de vida e sobrevivência distante de Deus, portanto, incorretos quanto ao futuro.
Ninguém deixa de viver aqui e agora se priorizar Deus no seu viver. Pelo contrário, Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” prometeu o Deus Filho, Jesus Cristo (João 7.38).
Proclamemos, pois, nós que cremos nas promessas grandiosas do Deus vivo, que a esperança de um futuro correto de vantagens imensuráveis está nas mãos de Jesus Cristo porque só Ele é Deus.
Pr. Riyuji Yanaguita
Missionário Itinerante
Coordenador Macrorregião São Paulo
Setor Guarulhos – Salesópolis

quarta-feira, 3 de junho de 2015

AQUELE QUE CRÊ EM MIM, NUNCA ESTARÁ SOZINHO!

AQUELE QUE CRÊ EM MIM, NUNCA ESTARÁ SOZINHO!

Amigo Jesus..., é assim que costumo conversar com Deus. O próprio Jesus disse que nos chama de amigo e em Mateus 28:20 temos a promessa mais linda da história: “Eis que estou convosco até o fim dos séculos”.
Diante disso, sou levado a refletir em uma historia que aconteceu no período Nazista.
Um homem que estava em um terrível e impiedoso campo de concentração assiste o enforcamento de algumas crianças. Os soldados ou até mesmo outros presos indagavam: Onde está Deus agora?
Sua resposta é direta e profunda: Deus está ali, naquela criança. Sofrendo, chorando e morrendo com ela.
Onde está Deus? É uma pergunta que milhares de pessoas fazem. Onde está Deus nesse sofrimento, nessa dor e nesse luto?
Queremos e precisamos saber da resposta. Talvez, nunca a tenhamos, mas podemos garantir com toda a certeza que Ele estará conosco até o fim.
Na resposta do homem, Deus está presente em todos os momentos. Não como o agente da ação boa ou ruim que acontece, mas como um amigo, pai ou mãe, que se compadece de seus filhos e chora, sofre e lamenta com eles todo o sofrimento. Deus não é o gênio da lâmpada mágica. Ele não está a nosso dispor para resolver os problemas e as dificuldades da vida.
Isso não significa que Ele não tenha poder ou não possa mudar situações, mas demonstra seu Amor incondicional. Dostoievski escreve em sua obra “Demônios” que um Deus que não pode sofrer com seus filhos, não pode ama-los. Porque amar, muitas vezes significa sofrer.
A maior preciosidade que encontramos em Deus alem de sua salvação, é a promessa de que aquele que crê em mim (Cristo) jamais estará só.
Mais do que esperar que Deus resolva os problemas, devemos enxergá-lo como o amigo que estará sempre conosco, sorrindo ou sofrendo, não importa a situação.
Deus estará conosco sempre e isso é suficiente.


Missionário Diego Cardoso Florêncio
Etnias Rastafáris

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O DEUS BENDITO (Parte 2 de 2)

O DEUS BENDITO (Parte 2 de 2)

Continuando nossa reflexão na introdução da carta de Pedro vemos que existe outra razão porque Deus é bendito: “para uma herança que não perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus para vós” (1Pedro 1:4). Essa obra de regeneração que nos traz uma viva esperança é traduzida aqui como a herança que temos no Senhor. A palavra grega klêronomia (klhronomi,a), “herança”, pode denotar uma propriedade já recebida, bem como uma ainda aguardada. Essa herança está no céu, não aqui na terra. E Pedro a caracteriza por três adjetivos.
O primeiro adjetivo é o que Pedro chama de Imperecível. No grego temos aphtharton (a;fqarton). Tem a ideia de algo que não passa e que não perece, não apodrece, não se deteriora. Paulo nos diz que o corruptível se revestirá do incorruptível (cf. 1Coríntios 15:53), usando o mesmo vocábulo daqui. Vemos que nossa herança nos céus não ficará gasta nem envelhecida. Nossos corpos celestiais serão semelhantes ao de Jesus glorificado e jamais sofrerão a morte (cf. Filipenses 3:21);
O segundo adjetivo que Pedro usa é a expressão Sem contaminação. No grego o segundo adjetivo é amianton (avmi,anton), “sem mácula”, algo absolutamente limpo, sem qualquer tipo de sujeira ou contaminação que possa levar a degeneração. Ou seja, quando recebermos a nossa herança nos céus nunca mais seremos arrastados para a lama do pecado.
E o terceiro adjetivo usado aqui é Inalterado. Aqui o vocábulo grego é amaranton (avma,ranton). Algumas traduções usam a palavra “imarcescível”, uma palavra pouco usada no português hoje em dia. A palavra era usada com relação às flores e sugere uma beleza sobrenatural que o tempo não pode apagar. A salvação que Deus concede aos Seus filhos nunca perde sua beleza e nem seu frescor.
E finalmente, Deus é bendito por causa de Seu poder em manter nossa salvação: “que sois protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para se revelar no último tempo” (1Pedro 1:5). A salvação não depende de nós mesmos, mas de Deus nos manter debaixo de Sua proteção. Isso não significa dizer que somos totalmente inativos na questão da salvação, mas que o poder que nos mantém de pé está no Senhor, não em nós. Aqui temos a palavra phouroumenous (frouroume,nouj), “guardar, vigiar”. O termo é militar, indicando a guarda feita pelos soldados. O tempo presente enfatiza a contínua proteção na luta interminável da alma. Essa é a garantia da vitória final, a proteção de Deus.
Como é maravilhoso pensar em Deus e no Seu poder e graça. Mais maravilhoso ainda é saber que a nossa salvação está firmada em Seus braços de amor e não em nossos méritos pessoais. Sendo a salvação uma ação da graça soberana; crer é consequência, e não causa do decreto de Deus. Nenhum ser humano de si mesmo tem fé para a salvação. Em geral, a tendência do homem natural é acabar na idolatria. Lucas registra em Atos que Paulo e Barnabé, pregaram em Antioquia da Psídia e muitos gentios e judeus creram na mensagem do Evangelho. Lucas registra: “[...] creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna” (Atos 13:48).
Charles Spurgeon sobre essa passagem disse: “Têm-se feito certas tentativas para demonstrar que estas palavras não ensinam a predestinação, mas tais tentativas forçam a linguagem tão claramente, que não vou desperdiçar o tempo em replicá-las... Leia bem: ‘creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna’, e não tenho que torcer o texto, senão que glorificar a Deus, atribuindo-lhe todos os casos de pessoas que crêem... Não é Deus quem dá disposição para crer? Se há homens dispostos a possuir a vida eterna, não é Ele em todos os casos quem os dispõe? É injusto que Deus dê graça? Se é justo que a dê, é injusto que se tenha proposto a dá-la? Desejavas que a desse por acidente? Se é justo que tenha o propósito de dar graça hoje, era justo que se propusesse antes desta data e, portanto, já que Ele não muda, desde a eternidade”.
Não somente tem Deus o direito de fazer o que queira com Suas criaturas, mas que acima de tudo o faz segundo Sua graça. Antes da fundação do mundo Deus fez uma seleção, uma eleição. Diante de Seus olhos oniscientes estava toda raça de Adão, e dali escolheu um povo e o “... predestinou para sermos adotados como filhos...” (Efésios 1:5), “... os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho...” (Romanos 8:29). Muitos são os textos bíblicos que nos põe num santo alívio acerca desta bendita verdade e que nos mostram a eterna segurança da salvação que recebemos. Portanto, louve ao Senhor e agradeça todos os dias ao Deus bendito que nos salvou por Sua eterna graça.

Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O DEUS BENDITO (Parte 1 de 2)

O DEUS BENDITO (Parte 1 de 2)

Deus é um Ser pessoal e quando olhamos as Escrituras ficamos impressionados com a beleza e a majestade do Senhor. O apóstolo Pedro escrevendo aos cristãos da Ásia inicia louvando a Deus de uma forma maravilhosa, o Deus bendito que executou Sua obra através de Jesus Cristo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que não perece, não se contamina nem se altera, reservada nos céus para vós, que sois protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para se revelar no último tempo” (1Pedro 1:3-5).
O foco aqui é a ação soberana de Deus, razão pela qual Ele é bendito e digno de ser adorado: “Bendito seja o Deus e Pai [...]”. Aqui vemos a profunda identidade judaica de Pedro, que se utiliza do estilo das bênçãos judaicas que eram recitadas três vezes ao dia nos ofícios das sinagogas e pelos judeus piedosos. O mais interessante é que a fórmula usada aqui por Pedro é a mesma usada por Paulo ao escrever aos Efésios e aos Coríntios (Efésios 1:3; 2Coríntios 1:3). Isso mostra que os discípulos seguiram o exemplo dado pelo Senhor e mostra como essa influência judaica marcou profundamente o cristianismo primitivo.
Mas Deus não é apenas Aquele que é digno de ser louvado; Ele é o pai do Senhor Jesus Cristo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo [...]”. A encarnação do Senhor Jesus aponta para o momento em que Ele assumiu a natureza humana, sendo o Deus vindo em carne. Essa é uma doutrina fundamental do cristianismo que desde os tempos mais antigos aceita a Plena divindade e plena humanidade de Cristo.
A doutrina da encarnação está profundamente ligada à doutrina da Trindade. Cremos que Jesus Cristo é Deus e um em essência com o Pai. Como definido no Credo Niceno (325 d.C.): “Cremos em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne do Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem, e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, e padeceu, e foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras, e subiu aos céus, e assentou-se à direita do Pai [...]” (BETTENSON, 2011, p.63)
Mas em que consiste a encarnação de Cristo e por que ela é importante? Ela consiste na visão de que o Deus Filho, a segunda pessoa da Trindade, assumiu a natureza humana. Mas também não podemos nos esquecer de que o Pai e o Espírito Santo agiram na encarnação. O Verbo foi gerado em Maria pela atuação do Espírito Santo (cf. Mateus 1:20; Lucas 1:35), sendo Ele a expressão da glória do Pai (cf. João 1:14) em cumprimento à profecia dada por Deus a Davi (cf. Atos 2:30).
Por que Jesus assumiu a natureza humana? As Escrituras apontam que a encarnação estava condicionada ao pecado humano. O Senhor veio buscar e salvar o que estava perdido (Lucas 19:10); Ele veio mostrar o amor de Deus, humilhando-se a Si mesmo ao tomar a forma humana (João 3:16; cf. também Filipenses 2:5-11; 1João 3:8). A encarnação de Cristo foi planejada na eternidade, tornando-O um membro da raça humana e que passou pelas mesmas circunstâncias da humanidade, porém sem pecado, tornando-se assim o sumo sacerdote perfeito (cf. Hebreus 4:14-16). Ele é plenamente Deus e plenamente homem.
Mas Pedro continua sua explanação para mostrar porque a adoração ao Pai é importante: “[...] que nos regenerou para uma viva esperança, segundo a sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1:3b). O Deus Pai é bendito porque Ele operou em nossa vida o novo nascimento. O vocábulo grego anagennêsas (avnagennh,saj) significa “regenerar, fazer nascer de novo”. A ideia de um novo começo, mediante uma ação Divina através da infusão da vida espiritual.
O novo nascimento ou a regeneração é algo fundamental no cristianismo. Regeneração é Deus renovando o coração, o âmago do ser humano, implantando nele um novo princípio de desejo, propósito e ação, uma propensão dinâmica que encontra expressão na resposta positiva ao Evangelho e a Cristo. A posição de Jesus desde o começo é que não há prática de fé em Sua pessoa como Salvador sobrenatural, nem arrependimento, nem verdadeiro discipulado fora desse novo nascimento (João 3:5; cf. Ezequiel 36:25-27).
Por isso essa regeneração traz “uma viva esperança”. Mas que viva esperança seria essa? É a esperança do Evangelho, sempre renovada, baseada no poder de Cristo. O Espírito Santo imprime em nosso coração a garantia da salvação que receberemos na eternidade. Por isso a esperança é viva, pois é através da regeneração que passamos a desfrutar a garantia incontestável do Cristo ressurreto.
Outro motivo pelo qual Deus é bendito é que a regeneração operada foi uma ação da misericórdia Dele: “[...] segundo a sua grande misericórdia”. Deus é o grande protagonista da salvação, não o ser humano. A misericórdia nasce da bondade de Deus, pois a Sua misericórdia denota a pronta inclinação de Deus em aliviar a miséria de Suas criaturas caídas. A misericórdia pressupõe a existência do pecado. Embora Deus possa manifestar Sua misericórdia sobre toda a humanidade, aqui Pedro está focando a misericórdia que é trabalhada pela graça soberana de Deus. (cf. Romanos 9:15). Ou seja, não é a situação da criatura que desperta a misericórdia de Deus, como se Ele fosse influenciado pela miséria dos pecadores.
A misericórdia não é uma questão de merecimento, pois se assim fosse seria uma contradição de termos. Paulo diz a Tito: “não por méritos de atos de justiça que houvéssemos praticado, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar da regeneração e da renovação realizadas pelo Espírito Santo” (Tito 3:5). A misericórdia provém somente da própria vontade soberana de Deus. Por isso Ele é digno de ser louvado. A misericórdia de Deus foi demonstrada “[...] pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”, que nos dá a certeza de que a morte foi vencida e que em Cristo temos a certeza da vida eterna.
Quer saber mais? Venha quarta-feira no culto de oração estudar a carta de Pedro.

Fraternalmente em Cristo, Pr. Gilson Jr.